2019 em Foz: o que está por vir e o (muito) que falta melhorar

A cidade que “ganha” um viaduto não retribui usando recursos para melhorar a vida do pedestre. Cadê calçadas e paisagismo?

Se tudo correr como o previsto, 2019 vai ser um ano bem movimentado, em Foz do Iguaçu, com o início da construção de duas obras vitais para seu futuro: a segunda ponte e a Perimetral Leste, bancadas com recursos da Itaipu Binacional.

Mas, vale lembrar, são obras demoradas, com previsão de término em três anos. Sem contar os inevitáveis problemas que vão provocar, durante sua execução. Nada, no entanto, que não seja suportável, tendo em vista os benefícios futuros.

E o viaduto da BR-277? Parece que é outra conquista garantida. E o “parece” é por um motivo bem simples: o governador Ratinho Jr, logo ao assumir, vai revisar todos os contratos assinados pela sua antecessora, Cida Borghetti.

Na fase final de transição, Cida recusou-se a suspender algumas contratações, entre elas um serviço de dragagem dos portos de Paranaguá e Antonina, no valor de R$ 400 milhões, a promoção de 1.400 praças da Polícia Militar e a convocação de 55 aprovados em processo seletivo da TV E-Paraná.

Nessa de revisar contratos, o do viaduto da BR-277 também passará por uma lupa. Tomara que esteja tudo certinho, ou então a obra vai para o cemitério das boas intenções.

Em entrevista ao jornal Gazeta Diário, o prefeito Chico Brasileiro diz que 2018 foi um bom ano, de boas conquistas, o que prepara a cidade para um 2019 ainda melhor.

De cara, as grandes obras previstas já vão trazer mais empregos, numa cidade que mantém ainda uma taxa muito baixa de empregos formais em relação à população economicamente ativa

Quanto maior a formalidade no trabalho, menos gente irá sobreviver às custas de atividades ilícitas, como o contrabando e até o tráfico de drogas.

O que falta

A foto de Caio Coronel mostra a ilusão de que Foz é uma cidade bem arborizada. O verde está nos vazios urbanos. Nas ruas, a distribuição de árvores é feita sem planejamento. A aridez aumenta quanto mais a cidade cresce.
O plano Mobi-Foz prevê, na pirâmide invertida, o pedestre no topo. Carros e motos, transporte individual, não devem ser prioridade.

E o que falta melhorar, como a gente anuncia no título deste texto? Tudo o que se refere ao urbanismo.

Foz do Iguaçu é cortada por grandes avenidas inóspitas ao pedestre e ao ciclista.

Há um plano de mobilidade urbana, desenvolvido em parceria da Prefeitura com o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), que prevê fazer de Foz uma cidade onde se invertam as posições em relação à mobilidade: em vez do automóvel, em primeiro lugar vem o pedestre; depois, o ciclista.

E, ao passar para a motorização, entra na sequência um transporte público mais eficiente, com canaletas exclusivas para os ônibus em algumas avenidas, como a JK.

Resta ver se sai do papel. Porque, infelizmente, o atual e seus antecessores parece que nunca andaram a pé pelas nossas calçadas (onde elas existem) ou usaram o transporte coletivo pra se movimentar de um bairro a outro.

Andar de ônibus é uma experiência torturante, ainda mais quando a temperatura ambiente está beirando os 40 graus.

Como os prefeitos andam em carro oficial com um bom ar condicionado ligado no máximo, jamais irão entender o sofrimento que impõem aos cidadãos que não têm este privilégio.

Feiura

As fotos são de dois pontos da Avenida Brasil e seu calçadão. Descaso total com o pedestre na via que eles mais utilizam.

Nossa cidade é feia. É duro dizer isto, mas não há sequer uma arborização adequada, que minoraria a temperatura e embelezaria nossas ruas e avenidas. Onde há árvores, muitas são velhas e já no fim da linha. A substituição teria que ser feita antes de serem removidas.

A maioria das avenidas e ruas, no entanto, não conta nem com arbustos. Não se investe naquele tipo de melhorias que, além de trazer mais conforto, alegrariam os olhos de moradores e turistas.

A Avenida Jorge Schmmelpfeng é a exceção: única, até agora, a receber atenção e projeto especial. Ainda falta o verde, mas o que foi feito já traz um alento.

Descontados os atrativos turísticos de Foz, onde o visitante que gosta de um bom passeio a pé iria? A Avenida Brasil seria razoável, se não fosse a poluição visual provocada pelas lojas, com suas fachadas tomadas por letreiros imensos, sem qualquer critério.

É a principal avenida de Foz, por ser a mais central. Mesmo ali, com calçadão e tudo, o pedestre se depara também com muito lixo, muitos empecilhos ao longo do caminho.

Reforçando, é preciso pensar em detalhes que transformariam Foz numa cidade aprazível, mesmo com tanto calor. Mais árvores, em toda parte, com bom planejamento das espécies a serem utilizadas – nem arbustos nem de porte gigantesco, mas que deem sombra, sempre.

Avenidas

Avenida Felipe Wandscheer: tem até faixas para pedestres, mas não tem calçada neste trecho. Aliás, não tem nem por onde o pedestre passar, a não ser arriscando-se a ser atropelado.

É incrível perceber o ambiente inóspito de avenidas como a Costa e Silva, sem paisagismo, bem como a República Argentina, fora da área central. A própria Avenida das Cataratas, que poderia ser mais um cartão postal, é um descuido só. Até hoje permanecem no local as marcas do acidente com o caminhão sem freios que provocou morte e destruição.

Mais árvores, mais calçadas e mais ciclovias (estas, sim, estão nas promessas do prefeito para 2019, sem contar com as que Itaipu está implantando na região Norte).

E a Avenida Felipe Wandscheer, uma tragédia visual, pode, agora que está com a duplicação concluída, passar por uma nova etapa, de calçamento em toda a extensão – sem interrupções, como está hoje – e de paisagismo. Árvores podem amenizar o “efeito postes”. O problema é que talvez nem dê para plantar árvores no canteiro central, com seu meio metro de largura (pouco mais que isso).

São coisas de custos baixos, em comparação com o que se gasta em asfaltamento. Mas são vitais para a cidade.

A área central deve ser pensada para o morador e o turista. Mas os bairros também merecem um tapa no visual.

Fiscalização

Recomenda-se, ainda, a inspeção pelo menos semanal nas ruas e avenidas, para que se substituam as tampas de bueiros e assemelhadas, que deixam o tráfego de pedestres e ciclistas perigoso.

Não bastam as grandes obras. São as pequenas, os detalhes, que vão dar a sensação de vivermos em uma cidade mais planejada.

O povo quer boa educação e bom atendimento na saúde pública. Mas o povão também gosta de beleza.

Afinal, o carnavalesco Joãozinho Trinta já dizia: “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. Entenda-se “luxo”, aqui, como tudo aquilo que faz a cidade ser mais aprazível. E miséria o descaso com este “luxo”.

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