O gato compartilhado
Carlos Galetti
Domingo, o dia começou um tanto quanto diferente, minha esposa no quintal xingando o gato; pior que o gato nem é nosso, quer dizer, risco de uma afronta ao dono do gato, podendo criar até um conflito entre muros.
Vale aqui explicar que o gato pertence ao vizinho, um amigo da Guarda Municipal, para ser mais exato, da Defesa Civil. O André, o verdadeiro dono do gato, já deu a causa por perdida, pois o gato não sai aqui de casa, encontrando grande incentivo nos carinhos da minha filha.
Certa feita, em debate com o André, o “dono” do gato, apresentei a solução de que o gato seria uma guarda compartilhada nossa, indo para a casa que melhor lhe aprouver. Só que o bichano não sai lá de casa.
Mas domingo, foi a gota d’água!
O bichano deu vasão aos seus instintos de caçador, colocou para fora sua formação de torturador do tempo de guerra fria, caçando uma pobre e suicida rolinha. Sempre tinha sido lagartixa, lavadeira ou barata; mas, uma rolinha tocou horror no sistema.
Minha mulher acionou as Nações Unidas, chamou-me com gritos estridentes de horror, assustando não só a casa, mas toda a vizinhança.
E o Steve, o gato, deve ser artista de Hollywood, desfilava com a rolinha se debatendo em sua boca, exibindo mui faceiro seu troféu de guerra. Minha mulher correu atrás do bruto, ofereceu inúmeras denúncias, até que os reclamos chegaram a este pobre que só queria ler mais algumas páginas do livro.
Imaginem a cena? Eu, este barrigudo inveterado, correndo com uma vassoura atrás do gato recalcitrante, que nos estertores do desespero entrou debaixo do carro, já com a rolinha em frangalhos.
Não cumprimos a missão, mas o Steve não teve sossego naquele malfadado domingo.
Era a mulher, de um lado, xingando o pobre animal e eu mantendo a fisionomia da frente, espantando o pobre bichano para a sua casa, para onde ia e logo retornava.
Depois de todo esse cansaço, resolvi tomar uma cerveja no barzinho perto de casa, nem pensando em contar minhas peripécias do começo do dia.
Ao voltar, a primeira coisa que perguntei foi pelo gato, ao que minha mulher respondeu, está dormindo lá dentro. Encontrei-o de pernas pra cima no seu sofá favorito.
Eu não tenho sofá favorito, mas ele sim. Um dia te pego.
Miau!
Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão