Questão de Atitude
*Carlos Roberto de Oliveira
Tudo fazia crer que naquele corpo moreno, cujos olhos verdes complementavam uma beleza ímpar, se escondia uma mulher reprimida.
O curioso, e instigante, é que não demonstrava timidez, porém seu comedimento, perceptível, a bloqueava pelo excesso de cuidados com as palavras e gestos.
Aparentemente não havia razões para aquele tipo de comportamento, até porque, ciente de seus atributos físicos e longe de qualquer conotação puritana, lógico seria de se esperar uma condição de autodefesa para aproximações mais ousadas, sem que isto a afetasse.
Contrariamente, porém, se fechava, e o fazia pela presunção de que não deveria ser tocada, só se prestando a ser, platonicamente, admirada.
Naquele dia, porém, e independente da descontração e alegria do grupo em que estava inserida, algo lhe chamou a atenção e a tocou profundamente quando, correndo os olhos pelo espaço que a rodeava, observou um casal se beijando e trocando caricias.
A princípio, uma cena comum, não o era, pois naquele dia, em homenagem a São Valentim, sempre há que ter um santo, comemorava-se o Dia dos Namorados e ela ali, sendo paparicada por muitos, mas sem a emoção de ser cortejada com um brinde que lembrasse um convite ao amor eterno.
E como um vulcão adormecido, não sem despertar um certo espanto, alto e bom som explodiu:
– Basta, hoje quero encher a cara e fazer amor!
*Carlos Roberto de Oliveira é empresário do ramo de logística em Foz do Iguaçu