Partiu o amigo Giba
*Por Carlos Galetti
Foram várias vezes que falei sobre o Giba, meu fiel escudeiro. Dos passeios que fazíamos, dos gostosos bate papos, das suas reinvindicações políticas, da sua animosidade com os gatos. Tudo ciumeira, perfeitamente contornável, pois os contendores eram do bem.
O fato é que o Giba estava velhinho quando os bichanos chegaram, mais irritadiço, não dava pra acompanhar o pique dos gatos. Tinha problemas neurológicos, andava com certa dificuldade e rodava muito. Perdera a visão e parte da audição, enfim começou a ficar no prejuízo em relação aos demais.
Ultimamente, sua situação piorava, já tinha dificuldade nas necessidades fisiológicas, ponderava a alimentação, seu olhar não tinha mais brilho, sua desistência o antecedia. Queria descansar, aproximava-se a hora da passagem.
De cima dos seus quatorze anos, que representava mais de setenta, já tinha lutado a boa luta. Dentro da concepção do Doutor Veterinário, que nos deixou bem à vontade, a situação era irrecuperável.
Acordei antes das seis e o trouxe pra fora, já tinha dificuldade até de ficar sentado. Consegui equilibrá-lo e ficou olhando o dia nascer, havia um pouco de chuva no horizonte e o sol não aparecia, parece que a natureza, em nossa homenagem, resolveu também entristecer.
Levei-o para a sala, deitando-o sobre o pano que vinha sendo seu catre. Minha mulher sentou-se ao seu lado, colocando seu focinho apoiado em sua perna, ali o Giba dormiu e partiu.
Minhas lágrimas chamavam-se saudade, no momento somente recordações. Fizemos a retrospectiva desde a sua chegada, seus primeiros passos, as primeiras estrepolias.
Tanta coisa a recordar, perdemos um membro da família.
Executamos os trâmites e agora é só saudade, algo que arranha o coração, trazendo certa desesperança. Na minha idade passamos variadas vezes pelo processo, sabemos que dói, mas um dia tudo se acomoda.
Notei que, quando seu espírito subiu, se desprendendo do corpo, seu brilho tomava fulgor. Pensei, dessa forma chegará lá em cima tal qual uma estrela. O Giba é mais uma estrela, das que passaram por nossas vidas, que agora brilha na imensidão do céu.
Desculpem se hoje vos passo tristeza, mas sei da vossa compreensão. Os temas nem sempre são maravilhosos, algumas vezes vêm preenchidos pela amargura dos nossos dias.
Enquanto isso, nós, pobres mortais, amargamos as perdas de quem fica roendo a rapadura da tristeza e chorando as lágrimas da saudade.
Rapadura coisa gostosa, tá melhorando. Já soube que o Giba está abanando o seu rabo cotó lá no paraíso, feliz e muito alegre. Descanse em paz.
Giba os gatos mandam lembranças, miau…
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.