Conversa de botequim
*Por Carlos Galetti
Na proximidade do Ano Novo, usando a desculpa do calor, fomos ao bar molhar a palavra. Sem dúvida absorver algo em termos de cultura, saber das novidades, atualizando os assuntos ou, como alguns preferem, saber das fofocas.
Confesso que fico impressionado: os assuntos fluem, o falecido do passado, os casos ligados ao falecido, quando quebraram a cabeça do sujeito com um taco de sinuca, atingindo-o pela retaguarda.
Ao fim de tudo, o sujeito somente passou a mão na cabeça ensanguentada, virou para o agressor e falou: – Você me agrediu, agora me leve para o hospital, pelo menos isso.
Histórias de boteco, como a que acontecida naquele dia, quando fiz um comentário, fui rebatido por alguém ao meu lado, ao que respondi pensando ser o Roberto, mas era meu vizinho de mesa, que conhecera na oportunidade, me deixando deveras sem graça. Será uma outra história no futuro.
Estou no boteco do Padilha, alguns diriam que estou aumentando a cultura “botecoólica”, jogando conversa fora. Ampliando o cabedal de informações ou, no linguajar da simplicidade, atualizando os assuntos.
O dono do bar teve a capacidade de observar que três dos parceiros, que faleceram durante a pandemia, bebiam cerveja determinada cerveja de latão. Pronto, aqueles que tomam da dita cuja suspenderam o consumo, mudando pelo menos o tipo de embalagem. Se bem que quem bebe esta cerveja… deixa pra lá, temos que respeitar os gostos alheios.
No bar, não se para, pois a todo o instante surge um assunto novo.
Como o caso do Allekees, um amigo do Rio de Janeiro, carioca “safo”, cheio de malandragem. Certa feita sofreu um acidente, fratura nas duas pernas, deu um trabalho do cacete pra levar o cara para o bar. Quando melhorou adotou a muleta, primeiro a de axila e depois a de punho.
Começou pelo banco, descobrindo a facilidade de todos lhe darem a preferência. Usando do artifício de ir com a muleta mesmo já estando bem. Chegou ao banco e todos o incentivaram a entrar na frente, dirigiu-se ao caixa, entregou o cheque e aguardou o dinheiro, colocando a muleta encostada no balcão.
Aí aconteceu, conferiu o dinheiro e saiu andando e deixando a muleta pra trás. Foi quando um sujeito muito forte, que lhe tinha dado a vez, falou: – O gaiato você deixou a muleta lá atrás. O Allekees olhou pra trás, para o sujeito, ajoelhou-se no meio do banco, gritando: – Jesus, milagre, eu estou curado.
Foi risada de dar dor na barriga.
Bar, lugar onde a alegria te invade, mesmo que você não esteja no melhor astral, mesmo que para isso o álcool dê uma certa ajuda.
Semana que vem volto, por enquanto vou lá no bar conversar um pouco.
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.