Socorre, estou com Covid!
*Por Carlos Carlos Galetti
Sábado resolvi voltar ao Bar do Juca, há tempos não desfrutava aquelas companhias, algumas agradáveis, outras nem tanto, mas todos do bem. Confesso que não estava nos meus melhores dias, a garganta arranhava, uma tosse chata me acompanhava e, vez por outra, um espirro.
Como sempre, chego e cumprimento os conhecidos e os desconhecidos. Outros me são apresentados, alguns fingem que não me veem e, ainda há aqueles que não reconheço.
Não imaginava que o estresse havia tomado conta das pessoas, pois tive a oportunidade de constatar. Sentei-me à mesa com o Rudi, corretor imobiliário, e o Mezzomo, o ex-vereador. E, num determinado momento, espirrei e tossi, todos se voltaram pra mim e começaram a me cercar.
Aquilo já estava se tornando ameaçador, todos me viam como o vírus em pessoa, já não me ameaçavam, e sim o vírus que viam em mim. Me apavorei e comecei a correr em direção a Schimmelpfeng, a multidão no meu encalço. Não me atrevia a olhar pra trás, mas na esquina olhei, tinham desistido.
Comecei a pensar com os meus botões, será que estão certos, estou sendo uma ameaça para a sociedade? Melhor que fosse fazer um exame. Aí começaram meus problemas, meu carro estava perto do Juca, estacionado na frente do edifício novo, nas cores do Palmeiras.
Retornei pela Santos Dumont, até a Edmundo de Barros, peguei em direção à Castelo Branco, procurando abordar o Bar do Juca pelo outro lado, parecia aqueles planejamentos militares que tanto fiz. Pensava em me disfarçar, eis que me aparece um mendigo deitado na sarjeta, tiro seu boné, coloco do avesso e continuo na atividade.
Na minha direção vinha uma velhinha que tinha visto a minha manobra de tirar o chapéu do mendigo. Me interpelou, dizendo que ia me denunciar às Nações Unidas. Foi difícil, mas consegui convencê-la de que o mendigo é que tinha me roubado o boné.
Bem disfarçado como estava, acessei facilmente o meu carro e saí em disparada, não sem antes deixar que o sinal estivesse bem aberto, pois preso no sinal seria um verdadeiro desastre.
Fui para bem longe, resolvi fazer exame no Costa Cavalcante, dei tanta desculpa e justificativa, que resolveram me entregar o resultado na hora. Pior é que deu positivo.
Corri para casa. Atravessei a 277, indo pelo trevo da Costa e Silva, pegando a Airton Sena. Segurando espirro e tosse, perseguição motorizada ninguém merece.
Cheguei finalmente em casa, fechei o carro e entrei rápido, mas não aguentava mais, atchim!!!
Saiu lá de dentro da alma. Vários vizinhos vieram pra minha porta, queriam saber o que acontecera. Minha esposa veio ao portão, fazendo o comunicado oficial de que dos nove gatos, três estariam gripados.
– Mas, temos ouvido também tosse.
– Ao que minha mulher respondeu que os cachorros da vizinha estão com tosse.
– Vamos perguntar a ela depois. Pessoal enjoado, cambada de metidos.
Daqui não saio, daqui ninguém me tira.
Kkkkkkk (risada nervosa).
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.