Homenagem aos queridos
*Por Carlos Galetti
Esta semana aniversariou meu filho e minha neta mais velha, ele 40 anos e ela 03 anos. Diante das duas realidades vejo que o tempo, inclemente, passou. Ainda bem que passou, principalmente o tempo em que não podíamos nos abraçar, comemorar, beijar, era difícil até estarmos juntos.
Meus anos ficaram pelo caminho, os sorrisos das crianças ficaram juntos com o tempo passado, não que deixassem de sorrir, mas seus sorrisos são carregados pelo avanço de suas idades. Minha neta tem ainda o sorriso da espontaneidade, meu filho o sorriso da preocupação, da responsabilidade.
Procuro minhas crianças e observo que deram lugar aos seus filhos, esses pequenos que invadem nossos espaços com suas solicitações, seus sorrisos, choros, pedidos, carinhos. Fomos transformados em super-heróis desajeitados, em naves espaciais, em cabanas que nem conseguimos entrar.
De repente, fomos elevados à condição de motoristas particulares, colocamos cadeiras que proporcionam o conforto dos baixinhos, tiram espaço dos adultos, mas consistem na glória. Passamos a pegar neto na escola, levar para a natação, ao médico, enfim passamos a viver as suas vidas.
Enquanto olhava minha neta cantando os parabéns, observava meu filho e lembrava. Há 39 anos atrás, servindo na Amazônia, estava fazendo o Curso de Guerra na Selva. Ouvindo os parabéns de agora e imaginando o de 39 anos passados, imaginei as agruras da selva onde sentia frio e enfrentava o cansaço de uma selva que me sugava, mas era a minha profissão.
O tempo passou, os personagens se modificaram, a situação é outra, os objetivos são outros que não aqueles do passado. Como diz Mário de Andrade: “- Já vivi mais do que me falta viver.”
Ocorre-me que o tempo inexoravelmente passou, sem a mínima possibilidade de voltar atrás. Cabe-nos seguir em frente, enquanto ainda estamos nesse plano, curtindo o que temos de melhor e, o melhor está no que deixamos, pessoas e histórias.
As crianças brincam, aguardando a hora do corte do bolo. Logo os parabéns serão entoados, brincadeiras serão feitas, gritos espontâneos de crianças serão ouvidos, mães ralharão com seus rebentos, alguns chorarão, outros continuarão a brincar.
Mero espectador que sou, observo os brinquedos apinhados de crianças, todos aproveitam tal qual fosse o dia derradeiro. Os adultos observam seus filhos, enquanto conversam, sempre cuidadosos, até observarem que tem os cuidadores nos brinquedos, deixando-os mais à vontade.
A festa começa a terminar, os baixinhos começam a demonstrar cansaço, logo estarão no conforto dos seus carros, junto dos pais, uns bocejando, outros já dormindo. Ah! Foi maravilhosa a festa, amanhã eu volto.
Durma bem, meu filho e minha neta. Ele festeja amanhã, ela hoje. As festas são diferentes, mas que dá saudade, isso dá.
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.