As aventuras de um gato
*Por Carlos Galetti
Dos nove gatos que tenho lá em casa, um é o Zé Trovão, aquele que fugiu há um tempo atrás. O Zé, como o chamamos, voltou muito arisco, talvez traumatizado.
Tentei durante um certo tempo conversar, de forma terapêutica, para ver se achava o problema e a resolução. Claro que tive de pedir ajuda profissional, fazendo-o através de um amigo, excelente psicólogo, que iniciou série de conversas com o Zé, descobrindo os traumas e as alternativas de cura.
Atualmente, já bem mais sociabilizado, menos tenso, conseguimos conversar sobre o assunto. Claro, sem forçar, algumas vezes nessas conversas vale mais parar e mudar de assunto.
Vou relatar sua aventura, que me foi passada num momento de descontração.
Apesar de castrado, como todos os gatos lá de casa, eis que um dia o Zé vê uma gatona na porta. Ficou incomodado, seu psicológico começou a trabalhar. Quando viu, já estava na calçada, tendo burlado a cerca elétrica, batendo papo com a beldade, querendo sair pelo mundo.
Escalaram os muros e telhados e saíram pelas ruas e vielas, no momento seguinte já passavam pela Por do Sol, em direção à Associação dos Moradores do Libra. Aí começa sua desdita, alguns cachorros os viram, começando a corrida pela vida.
Conseguiram escalar uma garagem, se acomodando num canto. Os latidos haviam parado, parece que tudo acalmara, resolveu dar uma olhada no ambiente. Voltou assustado, sua companheira já havia partido (Ah! As mulheres), notara lá fora a maior concentração de gatos por metro quadrado.
Por enquanto teria de ficar ali, bem escondido, pois sair agora seria suicídio e assim ficou, os bichanos começaram a se retirar, a sua reunião acabara, todos se dirigiam aos seus lares. Caiu na real, estava perdido, sem saber o rumo que tomar, estando num local estranho, além de extremamente inseguro.
Lá em casa já haviam descoberto que um gato não havia respondido à chamada. Procura em cima dos móveis, embaixo, em todos os buracos, cantos e recantos, chegando-se à conclusão, o Zé Trovão, o líder revolucionário, fugiu.
Zé estudava o terreno, havia vindo de lá, voltaria naquela direção. Teria que atravessar aquela rua, olhou e nada vinha, galgou um muro e do outro lado foi agarrado por um adulto, que o deu para sua filhinha. Estava amarrado pela perna traseira.
Na tentativa de se livrar, deslocou o colo do fêmur, trazendo muita dor e uma imobilidade temporária. Ficou alguns dias naquela casa, sendo alimentado e recuperando as forças, enquanto o problema ortopédico apresentava uma melhora, para tentar escapar.
Um dia, pela manhã, notou que a corda que o amarrava estava frouxa. Começou uma luta insana para soltar-se, conseguindo, após muito custo, o seu intento. Pulou rápido o muro e, já do lado de fora, reconheceu o logradouro, descendo mais um pouco estava na rua de casa.
Dali até em casa não houve mistério, escalou o muro, ainda sentindo a contusão, vendo seus irmãos e parentes. Minha filha foi a primeira a vê-lo, claro fez um escândalo, ativando vizinhos, cachorros e gatos locais. Noto que quer dar um tempo no assunto, não vamos forçar, afinal não há necessidade.
Foi boa a lição, o Zé está mais caseiro. Tomara que a gata não apareça.
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.