A dor da saudade
*Por Carlos Galetti
Então percebemos que nosso amigo partiu, uma percepção contundente que nos sufoca de tristeza, nos fazendo viajar pelos acontecimentos do passado, pelos momentos agradáveis que tivemos, pelas dores que juntos enfrentamos, enfim, pela vida que desfrutamos, nós e nossas famílias.
Percebemos que é irreversível, que não tem volta, não existe roubo no jogo, não há como mexer com as pedras do tabuleiro para que as coisas aconteçam de forma diferente. Concluímos ser irremediável, terrivelmente irremediável.
Vem a sensação de desamparo, essa lágrima que insiste em descer pelas nossas faces, misturadas aos sorrisos das boas recordações, mas irremediável.
Essa palavra que não me sai da mente, me coloca desesperançoso; além dessa distância que nos deixa pior ainda, pois, se estivéssemos mais perto poderíamos ir aos lugares que íamos, estar com as pessoas que sempre estávamos, haveria como apaziguar esta dor… Será? Já nem sei, pois não sei de nada, só dói, lá dentro, bem fundo.
Tento lembrar como, exatamente, nos conhecemos, das coisas que falamos, das situações que passamos. Militares são unidos, sempre um tentando ajudar o outro, é como se passasse a ser da família, e somos família, talvez só não o saibamos, mas passa a ser tio das crianças, cunhado das esposas dos amigos, neto das avós, amigo dos irmãos; sim, nesse ambiente confuso, passamos a ser da família, amigo dos amigos, irmão dos irmãos, filho dos pais, carne da mesma carne.
Um dia podemos até nos afastar, por questões profissionais, podemos até passar a viver em outros lugares, podemos até não nos ver com frequência, mas sabemos que podemos nos contar, que a amizade continua profunda e, a qualquer necessidade, poderemos nos ajudar.
Mas, e agora? Como na música, aconteceu o último acorde, a última frase, só resta os aplausos. Não! Existe muito mais, e o seu legado? Sua lição, seu exemplo, seu sorriso, as brincadeiras nos momentos de descontração, o carinho com os netos, a dedicação incondicional à sua companheira, a “Veruska”, a ligação aos filhos, Flávia e Fernando. Tudo isso eu vi, sou testemunha e, jamais, esquecerei, pois aprendi muito com você.
Por tudo isso, essa saudade vai continuar, batendo lá no fundo, ritmada, compassada, sob a forma de música, digamos como o sambinha de uma nota só, dizendo sempre: – “Jaiiiir, nós amamos você! Até um dia! Pois tenho a certeza de que algum dia estaremos juntos de novo.”
Vi em algum lugar que: “Saudade é o amor que virou estrela…”
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.