*Por Carlos Roberto de Oliveira
Tio Bubi, assim o chamavam. Octogenário, porém, lúcido e observador, tinha algumas manias, sendo a principal delas o espírito altruísta.
Um tanto anárquico, não se deixava levar pelo pessimismo existencial, mas sim pela sensibilidade e participação no processo de convivência, não se apegando a paradigmas e se opondo com veemência a colocações negativistas como “a vida é uma ilusão”.
Longe de qualquer comportamento falso moralista e sem qualquer afetação, contrapunha-se àqueles que concordavam com essa assertiva de que a vida é uma ilusão, e, enfatizava suas convicções, acrescentando que o correto seria dizer que a ilusão deve ser feita de esperança – e vida é esperança – e não de uma frustração por alguma ocorrência negativa não superada que, normalmente, acarreta sentimentos mesquinhos que tendem a se perpetuar pelo egoísmo revanchista e com isto gerando, muito provavelmente, carências emocionais.
Aos céticos, e no intuito de promover algum tipo de reflexão sugere, como uma espécie de lembrete, o seguinte: “Como não reconhecer, e agradecer, a beleza da infância, quando o ser humano mais se aproxima da perfeição; como esquecer da adolescência quando nessa fase da vida pensamos sermos eternos; como não valorizar aquela fase natural seguinte de amadurecimento em cujo final de seu ciclo somos recompensados com valores que se prestam a enfrentar as adversidades?”.
Com uma certa tristeza e decepção, atribuía a descrença de muitos em não aceitar a beleza da vida pelo fato de uma deformação do conceito ético de encará-la, não a entendendo em sua essência que tem, não na vulgaridade, mas na simplicidade sua tônica.
Coerente com sua visão da vida, e considerando que ilusão e vida mantém um vínculo, o velho tio Bubi, em sua plena consciência, com um leve sorriso, acrescentou: a vida é dinâmica e apresenta seus desafios, e a ilusão é um de seus insumos.
*Carlos Roberto de Oliveira é empresário do ramo de logística em Foz do Iguaçu