Especialistas paraguaios analisam polarização na política do Brasil e seus efeitos por lá

Foto: Última Hora

O jornal Última Hora ouviu três especialistas em economia paraguaios, para analisar como ficará a relação Brasil-Paraguai com a vitória de Jair Bolsonaro ou de Fernando Haddad, no segundo turno.

Principal sócio comercial do Paraguai e maior comprador dos produtos que o país vizinho exporta, o Brasil ainda traz temor aos paraguaios porque, em 2023, será renegociado o Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata justamente da questão da venda de eletricidade.

Voto anti

O economista Alberto Acosta Garbarino lembra que, no Brasil, prevalece hoje mais o voto “anti’, isto é, as pessoas votam “contra o esquema de corrupção gestado nos tempos do PT e contra o regresso a certo passado de linha conservadora”.

Para ele, o discurso nacionalista de Bolsonaro poderia se traduzir em complicação para o Paraguai no momento de renegociar o Anexo C do Tratado de Itaipu.

Ele acha que o Itamaraty, que sempre teve uma política de longo prazo, independentemente dos governos de turno, perdeu muito protagonismo, sobretudo em tempos de domínio do PTI, minando outras autoridades. “O Itamaraty está contaminado pelos vai-e-vens políticos”, afirma.

“Dono de Itaipu”

Para a economista Gladys Benegas, a percepção é que deve resultar vencedor Bolsonaro, com o que voltaria uma política conservadora e protecionista.

“O Brasil, de certa forma, continuaria sendo dono de Itaipu. Ainda que nos discursos sustentem que o Paraguai é sócio condômino, isso é somente nos papéis. Muita gente que esteve na assinatura do Tratado (em 1973) está no círculo de Bolsonaro, assim que sabe bem como beneficiar só ao Brasil”, destaca.

Trump

Por sua parte, o analista analista Amílcar Ferreira avalia que a vitória de Bolsonaro seria, para o Mercosul, o que o Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) representou para Donald Trump. Bolsonaro, segundo ele, implementaria uma política nacionalista e protecionista.

“Isso dificultaria o comércio com os países vizinhos. E também haveria dificuldades nas chances de renegociar o Tratado”, afirma.

De acordo com Ferreira, se Haddad ganhar, “a sociedade continuará tendo uma polarização, se não for acelerada uma investigação dos feitos de corrupção governamental. Mas sua política com os países vizinhos seria mais amigável e a renegociação do Tratado poderia trazer mais benefícios ao Paraguai”.

No entanto, caso Bolsonaro ganhe e consiga eliminar os esquemas de corrupção, “pode ser impulsionada uma recuperação econômica (do Brasil), e os benefícios para o Paraguai poderiam estar traduzidos na reativação do comércio de fronteira”, avalia.

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