Anverso

Vez por outra olhava e Maria me olhava

Foto ilustrativa: Pixabay

Anverso

*Por Carlos Galetti

(Esta é uma história de ficção, qualquer semelhança com fatos, pessoas ou acontecimentos, terá sido mera coincidência).

Maria olhava insistentemente para minha direção. Confesso que já me encontrava acabrunhado diante da situação. Não sei com quem estava, mas tinha certeza que estava com alguém, chegara num grupo grande; barulho, brincadeiras, zoações.

Em festas, os grupos se dividem, cada um assumindo seu grupo pela influência da empatia. Fiquei num grupo heterogêneo, assuntos diversos, pontos de vista sem defesas radicais.

Vez por outra olhava e Maria me olhava.

A noite avançava, o álcool amansava alguns e recrudescia outros, os sorrisos já eram mais fáceis e as palavras já saíam mais sonoras e amolecidas. Olhei para Maria mas não estava, fazendo-me pensar que fora ao toalete.

Alguém do grupo disse que o deputado chegara, conhecia-o de vista, tendo poucas oportunidades de falarmos. Lembro que, da última vez, até fui cumprimentado pelo dito, me passando a impressão de ser pessoa simpática.

Devido ao calor, estávamos na parte externa do salão, pois a casa era imensa, tendo, inclusive um salão interno, para onde os convidados se dirigiram, a fim de ouvir algumas palavras do deputado.

Quando cheguei ao salão, levantando meus olhos me deparei com Maria de novo. Aliás de onde veio aquele nome, por que a chamava assim?

Agora no salão, ante as palavras ditas naquela voz forte e imponente, Maria só tinha olhos para o deputado. Deduzi que eram amantes, ou então estava tendo ideia para outro romance a ser escrito.

O deputado acabara de passar a sua mensagem, todos voltaram as suas rodas, as conversas eram reatadas, o serviço de bar retornara, a festa voltara ao normal.

Vi Maria, a minha personagem, deslocar-se com o deputado para uma parte mais íntima e preservada. Ideia para mais um romance pululando em minha mente.

Penso em retirar-me, pois é dia de semana e amanhã temos trabalho. Maria sai em direção à parte externa da casa, está só, sem o deputado. Passa quase roçando seu ombro no meu, por certo momento nossos olhos se encontram.

Resolvo abordá-la, parece até coisa de adolescente, meu peito arfa, minha respiração ofega e começo a deixá-la distanciar-se. Não sei o que se passou, um garçom oferece um whisk, enquanto Maria some na noite.

Seu perfume ainda está no ar, lembro que nem sei seu nome.

Melhor ir embora, amanhã tenho muitos compromissos.

Maria ficou na perdida noite, seus olhos não me olham mais, seu sorriso nem vi…

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

Sair da versão mobile