Argentina tem 6,7 mil estudantes brasileiros em cursos de Medicina. Veja quanto custa

Os brasileiros Vanessa de Souza Pithon e Fernando Carneiro. Foto: Fabián Marelli – La Nación

Não é só no Paraguai que estudantes brasileiros invadiram as faculdades de Medicina. Nos cursos da Argentina, também já há 6.721 brasileiros matriculados.

A maioria desses alunos, ao entrar na faculdade, não entende praticamente nada de espanhol, o que traz problemas até para os professores.

Por isso, a Universidade de Buenos Aires passou a exigir, para admissão de brasileiros, que saibam um mínimo da língua, o equivalente ao nível B+1.

A exigência de certificado vale para os que forem entrar na universidade a partir do quarto quadrimestre e precisa ser entregue até 30 de novembro.

Reportagem

O jornal La Nación traz reportagem exatamente sobre isso, com o título: “Profesor, puede falar más lento”: Los estudiantes brasileños transforman la facultad de Medicina.

A matéria dá como exemplo Fernando Carneiro, que, ao entrar pela primeira vez na aula, sentiu que “seu sonho de chegar a ser médico entrava em crise”. Ele não entendia nada do que a professora falava.

Hoje, aos 24 anos, cursa o último ano de Medicina na Universidade de Buenos Aires e “fala em perfeito portenho, com apenas um pouco de português”, diz o La Nación.

Rodear-se de argentinos

Vanessa de Souza Pithon, de Salvador, está no primeiro ano de Medicina, na Universidade de Buenos Aires. Ela acha correto estabelecer como requisito o nível básico do espanhol.

Foto: Fabián Marelli – La Nación

“No começo eu não entendia muito as aulas. Me ajudava muito ler as anotações antes, porque por escrito entendia mais do que falado. Mas todos os exames são orais. Então, não me restou outra coisa que me esforçar e tratar de me rodear de argentinos e entender”, conta.

“Devagar, professor”

A história de Fernando e de Vanessa se repete tanto nessa universidade como em outras, onde os professores costumam se queixar que, em quase todas as aulas, algum aluno levanta a mão e pede se poderia “falar devagar” (em português mesmo).

O Ministério de Educação da Argentina informou ao jornal que, de cada sete estudantes de Medicina, um é estrangeiro. São 12 mil estudantes de outros países, mais da metade brasileiros (os 6.721 já citados).

Os alunos de Medicina representam 75% dos 8.803 brasileiros que hoje estudam na Argentina.

Sem vestibular

O La Nación lembra que o principal motivo para brasileiros procurarem a Argentina para estudar Medicina é a dificuldade de acesso à universidade pública, no Brasil, em que às vezes é preciso tentar seis ou sete anos o vestibular. Já o sistema privado é tão caro que só filhos de classes altas têm acesso.

Na Argentina, há universidades gratuitas e pagas, mas nenhuma exige vestibular, assim como no Paraguai e na Bolívia.

Custo pra viver

Arte: La Nación

Os brasileiros de mais recursos, diz o La Nación, opta pela Argentina. Ali, é possível morar com o equivalente a R$ 2,5 mil a R$ 4 mil, incluindo moradia e manutenção, disse ao jornal o brasileiro Kleber Rodrigues, médico que se formou e já voltou à cidade natal (Londrina, no Paraná). Ele diz que, no Brasil, gasta-se pelo menos o dobro, em universidade particular.

Com sua experiência na Argentina, Kleber criou a agência Vive Buenos Aires, que há seis anos assessora os interessados brasileiros em estudar no país vizinho, fazendo trâmites do revalida, dos vistos de estudante, de encontrar lugar para viver, etc.

Ele cobra por isso uma taxa única equivalente a R$ 2.500. A experiência dele começou quando era estudante e a família teve problemas econômicos e não pôde ajudá-lo a continuar os estudos em Buenos Aires.

Bolsa e proposta

Ele pediu uma bolsa de estudos e conseguiu. Ofereceu-se, então, para trabalhar em troca do benefício, mas, embora dissessem que não era necessário, insistiu e teve então uma proposta das autoridades: ajudar os brasileiros que tinham, muitas vezes, dificuldades para se instalar, compreender o idioma e conseguir moradia.

Kleber ouviu mais de mil estudantes e ali nasceu seu projeto, que contou com apoio do consulado brasileiro em Buenos Aires. Quando voltou a Londrina, converteu-se no empreendimento que hoje ajuda, mediante a taxa, milhares de brasileiros interessados em estudar na Argentina.

Residente recebe

“A Argentina se consolidou como um destino acadêmico da região. Os brasileiros, como outros estrangeiros, vêm pela qualidade da educação e pelas possibilidades de acesso a cursos de graduação e pós-graduação e, também, porque aqui as especialidades e as residências hospitalares são pagas, quando em outros países têm que pagar para cursar”, explica Paulo Falcón, diretor nacional de gestão e fiscalização universitária do Ministério da Educação da Argentina.

A presença de brasileiros não transformou apenas a rotina da faculdade de Medicina, diz ainda o La Nación.

Me Leva Brasil”

“Há bares e locais em distintas zonas de Buenos Aires que parecem saídos dos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, e se converteram em sede dos estudantes de Medicina do Brasil”.

O jornal cita alguns deles: Gambino, no shopping Abasto, e Me Leva Brasil, em Palermo. O boliche Maluco Beleza, em Sarmiento e Salta, concentra nos finais de semana a noite da festa brasileira.

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