Altas seguidas do dólar, expectativa de inflação em elevação e taxa básica de juros com novos aumentos. É o recrudescimento da crise econômica na Argentina, que na verdade já não vem bem há muitos anos.
Parece que nem o papa tira a Argentina da crise.
O pior, agora, é que os capitais externos, que estavam retornando ao país, estão perdendo fôlego. E, para esses capitais, a revista Forbes, a mais importante dos Estados Unidos, já levanta uma hipótese péssima: “Talvez seja hora de sair da Argentina” (It might be time to get ou of Argentina), diz artigo assinado por Kenneth Rapoza.
Segundo o jornal La Nación, Rapoza faz uma análise minuciosa sobre a economia argentina, as altas do dólar e as estratégias do governo para enfrentar a situação.
Depois de ouvir analistas, que criticaram o plano econômico do presidente Mauricio Macri, Rapozo conclui que é hora de sair da Argentina – “e sair correndo”.
Esta é a maior crise que o governo Macri enfrenta. E a origem, entre outros fatores, é a perda de credibilidade do Banco Central, que elevou a meta de inflação, em dezembro do ano passado, de 10% para 15%, em uma tentativa de aumentar o ritmo da economia.
Mesmo com a previsão tão alta, o mercado não acredita na meta para 2018 – projeções apontam para mais de 20%.
O chamado “mercado” tem pavor de descontrole da inflação, ainda mais quando o governo não consegue segurar os déficits públicos internos e a dívida externa.
Nos últimos dias, o capital externo foi fugindo do país, em busca de ganhos menores, mas mais seguros, como nos próprios Estados Unidos. Sai o capital, falta dólar e a moeda americana explode.
Pra segurar o capital externo, o governo aumenta os juros básicos (chegaram a 40%, a maior taxa do mundo). Dólar alto significa também pressão inflacionária. Uma espiral perigosa.
Mas a análise dos problemas argentinos, aqui, é pra mostrar o risco que corremos no Brasil e no Paraguai. O governo brasileiro diz que esse risco é pequeno, mas, certamente, pode afetar nossas exportações, principalmente de veículos. As vendas externas, principalmente para a Argentina, vêm compensando o mercado interno que ainda não se recuperou do baque da recessão de 2015 e 2016.
Menos vendas ao exterior, menor a possibilidade de a indústria brasileira se recuperar – o que já acontece hoje muito timidamente. O emprego, então, pode sofrer uma piora (e já é uma catástrofe).
O Paraguai, por sua vez, conta com a recuperação dos dois grandes parceiros comerciais para manter a previsão de crescimento do PIB, este ano, em 4,5% (segundo o FMI). O baque na Argentina já pode prejudicar o Paraguai, mas se afetar também o Brasil, o Paraguai vai certamente sentir o golpe mais fortemente.
Enfim, esperemos que a Argentina se recupere. Ou, ao menos, que o efeito tango não seja tão intenso.