A Argentina já está entre os cinco países com previsão de inflação mais alta este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O país deve fechar 2018 com uma taxa de 40%, nos cálculos do FMI, que são inclusive inferiores ao consenso dos economistas, que projetam uma variação de 45%.
Mesmo com os 40% projetados pelo FMI, a Argentina só “perde” para a Venezuela (com espantosos 2.500.000% de inflação este ano), Sudão do Sul (99,4%), Sudão (64,3%) e Irã (47,8%), países que enfrentam conflitos internos e externos.
Na América Latina, com exceção da Venezuela e do Haiti (com taxa de 13%), todos os países têm previsão de inflação, para este ano, inferior a 10%.
O Peru fechará com 2,4%, taxa igual à dos Estados Unidos. O Chile, com 2,9%; a Bolívia, com 3,7%; o Paraguai, com 4,1%; o Brasil, com 4,2%; e o Uruguai com a taxa mais alta dos vizinhos do Mercosul, depois da Argentina, com 7,8%.
Histórica
Ao contrário do Brasil, que com o Plano Real, em 1994, conseguiu estabilizar a hiperinflação que o país enfrentava (46,58% só num único mês, o de junho de 1994), a Argentina nunca encarou o problema da inflação de frente ou com sucesso duradouro.
Matéria publicada no El Independiente Iguazú lembra que os argentinos convivem com inflação alta há 70 anos.
Entre 1943 e 2013, só durante 14 vezes o país teve taxas de inflação inferiores a 10% ao ano. Na década de 1950, a inflação média anual foi de 30,4%; na década de 1960, de 22,8%; e na década de 1970, de 133%.
O período mais grave foi nos anos 1980, quando a taxa mais moderada foi de 90%, em 1986.
Em 1989, a Argentina viveu a hiperinflação, quando a taxa anualizada atingiu 3.079%. O período entre 1994 e 2001 foi quando a inflação retrocedeu a taxas mais moderadas, com o Plano de Conversibilidade, em que a moeda argentina – na época, o austral – teve seu valor fixado à mesma taxa do dólar. No ano seguinte, o austral foi substituído pelo peso conversível.
A inflação caiu, nos anos seguintes. Mas o país perdeu competitividade no exterior e houve uma invasão de produtos importados. Aí, a Argentina passou a conviver com inflação em dólar, moeda que era aceita como se fosse “nacional”.
Em 2002, o peso conversível foi substituído pelo peso – simplesmente peso -, moeda que passaria a flutuar em relação ao dólar.
Assim vem o país, de lá pra cá, sempre com taxas de inflação oscilando acima de 10%, com crises se sucedendo e nenhuma ação de fato pra resolver o problema. Aliás, talvez o maior erro do presidente Mauricio Macri tenha sido justamente o de desleixar a política anti-inflacionária, pois quando assumiu a taxa já era de dois dígitos.
O problema é a herança que ele recebeu de governos anteriores. Dívida pública não muito alta, mas em dólar (o que pressiona o peso). O governo contava com investimentos externos para amenizar a situação, mas o dólar está escasso para todos os mercados emergentes.
Aí, com dólar escasso e a maior procura pela moeda americana, como acontece em períodos de crise, a Argentina se viu obrigada a recorrer ao FMI, com muitos protestos contra Macri por essa decisão.
Quanto à inflação, juntou-se à recessão, provocando o fenômeno denominado estagflação: inflação alta e economia paralisada.
Para 2019, não se espera nada de muito melhor nas bandas argentinas. Infelizmente.