Armado, o gari do Reservatório da Itaipu

Matéria do Jornal de Itaipu de 1997 ainda é atual

Reprodução do Jornal de Itaipu

 

A matéria abaixo foi publicada na edição número 96, de 1997, do Jornal de Itaipu, cuja redação era formada pelos jornalistas: Hélio Teixeira de Oliveira, Maria Auxiliadora Alves dos Santos, Cláudio José Dalla Benetta, Heloisa Covolan e Joel Sampaio. As fotografias são de Caio Coronel.

Vamos a ela.

Ele é bastante apreciado devido à consistência de sua carne. Foto: Rudi Carboni/Não Viu?

“O controle da proliferação de plantas aquáticas em alguns locais do Lago de Itaipu pode estar sendo feito com a ajuda de uma espécie de peixe que há alguns anos era desprezada pelos pescadores: o armado.

Estudos feitos pela Universidade Estadual de Maringá, através de um convênio com a Itaipu, revelam que esse peixe migrador, conhecido entre os cientistas pelo nome Pterodoras granulosos, é onívoro – se alimenta de quase tudo o que encontra.

Devido a esses hábitos alimentares, a Itaipu está fazendo experiências com o armado para verificar se ele está eliminando o excesso de plantas aquáticas em alguns pontos de rios tributários do Reservatório.

Essas plantas  podem comprometer a qualidade da água do Lago e precisam estar sob permanente monitoramento. Nas análises dos estômagos dos armados capturados foram encontrados, principalmente, moluscos, algas grandes, folhas, detritos e sedimentos.

COMIDA NA MÃO
As experiências estão sendo feitas pela bióloga Carla Canzi, em um tanque no Refúgio Biológico Bela Vista. Se as suspeitas da Itaipu forem confirmadas, o armado também poderá ser usado na limpeza de tanques de piscicultura e pequenos lagos.

“Ele é um peixe extremamente dócil e se adapta facilmente ao cativeiro”, garante Carla. Para ilustrar a docilidade da espécie, ela conta que, quando manteve armados em cativeiro no município de Santa Helena, muitas vezes os peixes vinham pegar alimento em suas mãos.

A única desvantagem encontrada até agora em relação a essa espécie é sua difícil reprodução em cativeiro. “Conhecemos muito pouco sobre a fase embrionária do armado”, diz a bióloga. Carla lembra que, quando está confinado em tanques, esse peixe dificilmente chega ao estágio ideal para permitir uma reprodução artificial. Porém, essa desvantagem poderá ser superada dando-se continuidade às pesquisas em cativeiro.

FONTE DE RENDA
Antes da formação do Lago de Itaipu, o armado era uma das espécies menos abundantes do Rio Paraná. Na época, os pescadores o devolviam ao rio quando ele era capturado. Quatorze anos depois do Reservatório ser formado, o armado se tornou a espécie mais abundante do Lago, contribuindo com cerca de 30 toneladas por mês para a pesca comercial – aproximadamente 350 toneladas por ano. O peixe que ninguém queria passou a ser filetado e vendido em grande quantidade.

Ele é apreciado, principalmente, pelos paraguaios, devido à consistência de sua carne. Quando adulto, o armado chega a pesar 5 quilos. “Uma das qualidades desse peixe é ser muito resistente. Ele pode ser mantido vivo em confinamento por até 3 dias”, explica o veterinário Domingo Rodriguez Fernandez, da Diretoria de Coordenação. Em consequência dessa característica, os pescadores economizam gelo para conservá-lo em condições apropriadas para consumo e aumentam seus lucros. “Ele é encontrado em toda a extensão do Reservatório e até acima de Guaíra “, diz Domingo.

Depois de ser considerado um estorvo para os pescadores, o armado se transformou numa nova fonte de renda e alimento na região Oeste do Paraná. E, no futuro, dependendo dos resultados das pesquisas que estão em andamento, seu cultivo em cativeiro poderá ser uma questão de sobrevivência para o próprio Lago”.

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