Atenção, pescadores da região do Rio Paraná, acima do Lago de Itaipu! Leiam esta matéria

“O último cálculo que fizemos apontou uma vida útil de 189 anos para o reservatório da Itaipu"

Rio Paraná. Foto ilustrativa: JIE/Divulgação

Muitos pescadores, amadores e profissionais, do trecho do Rio Paraná acima do Lago de Itaipu, principalmente os da região de Guaíra, o município mais prejudicado com a formação do reservatório da hidrelétrica, pois perdeu Sete Quedas, têm se queixado dos volumosos bancos de areia que se formam rio acima.

Praticamente, em alguns locais, dá para quase atravessar do rio a pé, de tanta areia acumulada, segundo relatos que o Não Viu? recebeu.

Porém, na tentativa de esclarecer o que está acontecendo, o Não Viu? reproduz uma matéria publicada pelo Jornal da Itaipu Eletrônico (JIE), ontem (18), sobre o assoreamento do Lago de Itaipu e, consequentemente, sobre os sedimentos que vêm se acumulando no fundo do reservatório, desde 1982, quando ele foi formado.

Vamos ao texto da matéria.

Monitoramento de sedimentos ajuda a prever a longevidade do reservatório

A água, matéria-prima para a produção de energia pela usina hidrelétrica de Itaipu, esteve escassa no último ano. Desde 2001, quando começou o monitoramento dos rios nos moldes atuais, a vazão dos rios da região não era tão baixa.

O Rio Iguatemi, por exemplo, cuja vazão média anual na seção de medição de sedimentos é de aproximadamente 200 m³/s, registrou meros 89 m³/s em 2020. Mas essa estiagem severa, que, a princípio, poderia parecer um problema para a usina, acabou tendo também seu lado positivo.

“Eventos extremos, como cheia e estiagem, são importantes para que possamos ter dados mais precisos para nossos estudos sobre o comportamento dos rios e dos sedimentos que a água leva para dentro do reservatório, especificamente, as areias, os siltes e as argilas”, explica o engenheiro civil e mestre em Sedimentologia Anderson Braga Mendes, da Divisão de Reservatório (MARR.CD) da Itaipu.

O trabalho é fundamental para a avaliação da segurança hídrica do reservatório. 

A Itaipu faz medições em 15 estações, em seções diferentes do rio Paraná e de alguns de seus afluentes. Além dos dados coletados por aparelhos e por parceiros locais, cada estação é visitada em média seis vezes ao ano pela equipe responsável pelo monitoramento de sedimentos da usina, para estudos mais detalhados.

É um processo trabalhoso, porém essencial.

Medição de sedimentos em suspensão e do leito durante estiagem registrada no rio Iguatemi (MS). Foto: JIE/Itaipu

Os dados coletados são utilizados para a elaboração de gráficos que correlacionam as vazões de cada rio com o transporte de sedimentos. Também permitem fazer estimativas mais precisas do carreamento dos sedimentos nos instantes que a equipe não está em campo medindo, reduzindo drasticamente os custos envolvidos. Dados coletados durante cheias e estiagens são preciosos porque mostram como os sedimentos se comportam em situações hidráulicas extremas e de difícil ocorrência, logo, de rara observação.

Segundo Anderson, “durante os meses de cheia os rios transportam grandes volumes de sedimentos, podendo chegar a até 90% de todo o volume do ano, dependendo do rio em questão. Já na estiagem, esse transporte cai muito, porém esse período também precisa ser investigado, por responder por várias semanas do ano. É importante termos esses dois extremos na curva de transporte de sedimentos para podermos fazer estimativas mais precisas e chegar a dados mais corretos, sem precisar apelar para extrapolações matemáticas”.

Muitos anos de vida
Ao longo dos anos, os sedimentos levados pela água vão se depositando no fundo do reservatório, reduzindo sua capacidade de armazenamento e, consequentemente, a vida útil operacional da usina. Por isso, a Itaipu conta com uma equipe especializada para estudar essa questão e acompanhar os montantes anuais de sedimentos que chegam ao reservatório, bem como sua evolução ao longo do tempo.

“O último cálculo que fizemos apontou uma vida útil de 189 anos para o reservatório desde o momento em que foi formado, em 1982. Isso nos coloca numa posição excelente, pois atualmente usinas de grande porte mostram-se economicamente viáveis se possuírem vida útil entre 50 e 100 anos”, afirmou Anderson Mendes.

Rio Iguatemi durante a severa estiagem, quando foi possível observar a característica exclusivamente arenosa de seu leito. Foto: JIE/Divulgação

Mas as perdas são constantes. Um estudo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que o processo de assoreamento na hidrelétrica de Três Irmãos, em São Paulo, foi responsável pela redução de 377 Megawatt-hora (MWh) na média mensal na geração de energia entre 1993 a 2008.

Por isso, qualquer alteração significativa nos dados recolhidos durante o monitoramento é analisada. Sabendo-se que à montante de Itaipu existem mais de 150 outros barramentos, tanto para geração hidrelétrica quanto para abastecimento humano, tem-se dado especial atenção a qualquer indício no monitoramento atual que possibilite projetar o fim da vida útil dos empreendimentos de montante, o que poderá implicar na redução da vida útil calculada para Itaipu.

A estimativa atual já contempla esse fenômeno de uma forma simplificada, porém apenas com estudos mais detalhados aliados ao monitoramento realizado é que será possível precisar o real impacto futuro do fim operacional dos barramentos de montante, os quais colaboram, hoje, para Itaipu exibir uma vida útil tão favorável.

Areia, silte e argila
Os sedimentos estudados pela equipe são os inorgânicos: areia, silte e argila. Eles compõem o solo e se diferenciam basicamente pelo seu tamanho. A argila é a mais fina, com até 0,004mm de diâmetro por grão. O silte tem de 0,004 a 0,063 mm de diâmetro. Os grãos de areia exibem diâmetros de 0,063 a 2,00 mm. Acima desse diâmetro encontram-se os cascalhos, os quais são de muito baixa ocorrência no aporte de sedimentos à Itaipu.

Fonte: JIE

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