“Os ferimentos causados na boca dos peixes pelos anzóis durante a “pesca e devolução” prejudicam a capacidade destes de capturarem presas e de se alimentarem devidamente, concluiu um estudo liderado por uma equipa de investigadores da Universidade da Califórnia, Riverside.
A modalidade de captura e devolução, também conhecida como pesca sem morte ou “pesque e solte”, é comum na pesca lúdica ou desportiva e os seus adeptos utilizam frequentemente anzóis sem farpa para reduzirem os danos causados aos animais.
Contudo, apesar de muitos considerarem o “pesque e solte” inócuo, já que o peixe é devolvido à água vivo, uma equipe de cientistas da Califórnia concluiu que a prática pode ter consequências indesejadas.
Quando um peixe é capturado pela boca e o anzol é depois removido, isto deixa um ferimento na boca do animal, que pode comprometer o sistema de alimentação por sucção usado por muitas espécies-alvo.
“O sistema de alimentação por sucção é, de certo modo, semelhante à forma como bebemos líquidos com uma palhinha [canudinho, no Brasil]”, explicou Tim Higham, professor da Universidade da Califórnia e um dos coautores do estudo. “Se se fizer um buraco na palhinha, ela vai deixar de funcionar como deve ser.”
Durante a alimentação por sucção, os peixes expandem rapidamente as suas bocas, criando uma pressão negativa que puxa a presa para a boca do animal. Tim Higham e os seus colegas perguntaram-se se a presença de um buraco extra, causado pela remoção do anzol, poderia desestabilizar este sistema.
Para o estudo, que foi publicado na revista científica The Journal of Experimental Biology, os cientistas analisaram o efeito de diferentes métodos de pesca em 20 peixes capturados perto do Centro de Ciências Marinhas de Bamfield, no Canadá. Dez foram capturados com redes e os restantes com anzol.
Os peixes foram imediatamente transportados para um laboratório, onde o seu comportamento foi acompanhado com a ajuda de câmaras. Os cientistas ofereceram-lhes alimento e notaram que, embora todos tenham manifestado igual interesse na comida, os que tinham sido capturados com anzóis apresentaram dificuldades em se alimentar. Depois dos testes, os peixes foram libertados.
“Como tínhamos previsto, os peixes com os ferimentos na boca apresentaram uma redução na velocidade com a qual conseguiam puxar presas para as suas bocas. Esta situação verificou-se apesar de termos usado anzóis sem barbela, que são menos prejudiciais do que os com farpa”, disse Tim Highman.
“Pensamos que haveria um impacto, mas (…) não sabíamos ao certo se obteríamos um resultado significativo”, confessou o professor. “Quando vimos a redução de 35% na capacidade de se alimentarem, ficamos muito surpreendidos. Foi muito mais do que estávamos à espera.”
Para se determinarem os efeitos a longo prazo desta condição, o professor explicou que são necessários mais estudos sobre o assunto.
“Embora ainda não saibamos como esta redução no desempenho alimentar afeta a condição física e a capacidade de sobrevivência na natureza, podemos dizer que as lesões induzidas pela pesca afetam a capacidade de o peixe se alimentar enquanto a sua boca recupera”, disse. “Este estudo enfatiza que a captura e devolução não se trata simplesmente de remover o anzol e tudo ficar bem; é um processo complexo que deve ser alvo de estudos mais aprofundados.”