“Estamos importando contrabando e exportando organizações criminosas que põem em risco todo o sistema democrático”, afirmou o secretário nacional de Segurança Pública, Flávio Basílio, durante a conferência da Alac (Aliança Latino-Americana Anticontrabando), no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
A aliança é uma iniciativa público-privada, da qual fazem parte governos, associações de empresas e as principais companhias afetadas pelo contrabando.
O contrabando, principalmente de cigarros, segundo conclusão dos participantes do evento, que termina nesta quarta-feira (29), é a base do crime organizado.
“Precisamos ter articulação muito ampla e pensar que não é problema só da segurança pública, mas afeta sonegação fiscal, renda, emprego, a vida e dignidade das pessoas”, disse Flávio Basílio.
A analista de risco político e presidente da Consultoria Asymmetrica, Vanessa Neumann, referiu-se especialmente à região da tríplice fronteira, lembrou que a marca de cigarro mais vendida no mercado brasileiro, onde entra via contrabando, é produzida na fábrica do hoje ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes.
Ela disse que a tolerância da própria população com o contrabando e a corrupção dificultam o combate ao comércio ilegal.
“Os cidadãos precisam entender que eles é que pagam as últimas consequências em relação aos grupos criminosos que são fortalecidos pelo contrabando”, afirmou.
“Coração dos ilícitos”
Segundo Vanessa, Ciudad del Este “é o coração de uma biosfera do comércio ilícito que alimenta grupos criminosos de todos os tipos”.
“É um mini-estado do comércio ilícito que tem uns US$ 35 bilhões de ingressos por ano, dinheiro que a indústria perde e que entra nos cofres do mercado negro”, disse. E completou: “Este dinheiro financia a insegurança em todo o Cone Sul”.
Vanessa Neumann mora nos Estados Unidos, mas é venezuelana. Com conhecimento de causa, ela disse que, se não se controla o contrabando, o tráfico ilícito e a corrupção, se chega à crise que está vivendo o seu país neste momento.
Segundo Vanessa, seu país é um caso exemplar de que a corrupção sempre abre caminhos a grupos criminosos como o PCC e o Comando Vermelho.
Fonte de recursos
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, também afirmou que os recursos ilegais arrecadados com o contrabando muitas vezes são utilizados para compra de armas e comércio de drogas, por exemplo.
“Hoje o contrabando não é mais uma atividade artesanal. O contrabando e a pirataria estão cada vez mais integrados a outras modalidade criminosas”, afirmou.
O encontro reúne representantes de organizações públicas e privadas de vários países. Do Paraguai, participam funcionários da Aduana, do Ministerio de Indústria e Comércio e da União Industrial do Paraguai.
Fontes: Tereza Fretes Alonso, enviada especial do jornal Vanguardia, e Folha de S. Paulo