Os “cadernos da propina”, diz o ABC Color, “revelam ferozes entregas de dinheiro feitas por empresários que operaram – e operam – também no Paraguai”.
O jornal diz que nos cadernos, que traçam o caminho da corrupção no governo Kirchner, de 2005 a 2016, aparecem o ex-diretor argentino de Yacyretá Óscar Thomas, foragido da Justiça, e a empresa Isoluz, que construiu um superviaduto no Paraguai, entre outros.
“O escândalo lança graves suspeitas sobre várias licitações e suas execuções no Paraguai”, diz o ABC Color.
O motorista argentino que registrou tudo nos cadernos (leia mais abaixo) conta de que maneira levava Óscar Thomas com periodicidade a endereços dos Kirchner e entregavam grandes somas de dinheiro de Yacyretá a emissários da família Kirchner.
Aparecem também “fantásticos pagamentos” feitos por Juan Carlos De Goycoechea, empresário da Isolux, que construiu um viaduto de Assunção denunciado por um sobrepreço de mais de US$ 3 milhões. A denúncia não foi aceita pela fiscalização paraguaia. Goycochea é um dos empresários arrependidos que está disposto a confessar.
Aparecem ainda o empresário Sergio Taselli, da empresa Acepar, a qual ele arrastou a uma “ignominiosa administração”, diz o ABC Color, e a empresa Indústrias Metalúrgicas Pescarmona IMPSA, de Enrique Pescarmona, ligada a contratações com Yacyretá, inclusive do lado paraguaio.
O que são os Cadernos da Corrupção
Um motorista acompanhou a entrega de propinas a políticos durante dez anos. E anotou cada detalhe que ouviu e viu em oito cadernos.
Hoje, estes cadernos põem fogo na política argentina e deixam na berlinda políticos, empresários e a gestão Kirchner (Néstor e depois Cristina) maculada pela corrupção.
Foi o jornalista Diego Cabot, do La Nación da Argentina, que teve acesso a uma caixa com oito cadernos, anotador, fotos, vídeos e até faturas de compras, onde se registravam todos os casos de propinas beneficiando os Kirchner. A caixa havia sido entregue a um policial de 73 anos, que ao perceber o conteúdo entregou tudo ao jornalista.
Quando os cadernos do motorista Oscar Centeno foram abertos, foi como abrir uma “caixa de Pandora”, na comparação do jornal El Clarín (na lenda grega, a caixa de Pandora continha todos os males).
Centeno era o motorista de Roberto Baratta, principal assessor do ministro da Fazenda da Argentina, o poderoso Julio de Vido.
Caminho da propina
Nos cadernos, estão detalhadas as propinas que eram levadas ao apartamento dos Kirchner e à residência oficial do presidente (e da presidente, depois). Calcula-se que o total da corrupção presidencial chegue a US$ 150 milhões, envolvendo grandes empresas e importantes políticos, também.
Por enquanto, estão detidos o próprio motorista, o ex-ministro e seu assessor, além de três empresários.
Por que as empresas pagavam propina? Pelo mesmo motivo que faziam (e fazem) no Brasil: para ganhar concorrências de obras públicas.
Não à toa, o caso é comparado ao da Odebrecht, que agiu tanto no Brasil como em outros países (inclusive na Argentina) e hoje se desdobra para acertar as contas com a Justiça, graças à operação Lava Jato.
Como disse um especialista argentino, o povo fica mais intolerante com a corrupção quando a economia está em frangalhos. É o que acontece hoje no país vizinho.
Por isso, não se tem ideia ainda do alcance que os cadernos terão na vida política e econômica do país.