Coisas da Vida
*Por Carlos Galetti
Quando tinha a escola de Vigilantes, depois que todos se retiravam, aproveitava para fazer aquelas tarefas que me exigiriam maior atenção, pois aí teria dedicação completa, sem interrupções. Depois fechava a escola e descia para o lar.
Efetivamente descia, pois estava na Avenida Brasil, em cima da Calce Pague, tendo que descer a Xavier da Silva, até a Rua das Missões, visto morar no Condomínio Villa Rufini.
Lembro que, quando iniciava a descida, no meu ombro iam dois anjinhos, um bom e um mau, quando o bom rompia o silêncio e dizia:
– Agora você vai pra casa, tomar seu banho e ver a novela com a sua esposa.
Sendo interrompido pelo anjo mau, que afirmava até com certa veemência,
-Que nada, você é filho de Deus, merece tomar uma cervejinha na birosca. (C.-O. RJ infrm. pequena venda, de instalações simples, ger. estabelecida num bairro pobre ou numa favela e que é misto de mercearia e bar).
No nosso caso, tratava-se de um trailer que se localizava na descida da Rua Xavier da Silva, um pouco abaixo do Restaurante “O Corintiano”, do meu saudoso amigo, Seu Plácido. Lá, no trailer, servia sandubas diversos e gostosos, além daquela loura gelada.
Mas como dizia dos anjinhos, discutiam, saiam no cacete e, sempre, invariavelmente, o mal vencia e eu parava na birosca, costume que me ficou, de chamar os barzinhos lá no meu distante Rio de Janeiro. Pedia minha cerveja, ficava vendo televisão ou batendo papo com alguém, conhecido ou não.
Ali, enquanto tomava as cervejas, exercia as atividades de ouvinte, conselheiro, e vai por aí a fora. Depois acabava de chegar em casa, tomava meu banho e ia acompanhar a mulher na televisão, até que o cansaço se fizesse mais forte, jogando-me nos braços de “Morfeu”.
Essa foi a minha rotina por alguns anos, depois vendi a minha participação na escola, posto que meus sócios, dois irmãos, viviam um xingando a mãe do outro, e era a mesma. Quando sai da sociedade da escola, já estava peleando com a empresa de Segurança.
Fui morar no Libra, onde comprei uma casa, coloquei do nosso jeito, pesquisei os barzinhos e, me estabeleci, podendo dizer que estamos muito bem de bairro, para morar, molhar a palavra e fazer amigos.
Minha rotina, claro, diria que mudou um pouco, mas continuamos a trabalhar, tomar as geladas, colocar os anjinhos para brigar e viver a vida da melhor maneira possível, praticando as coisas boas e ajudando o próximo.
Vez por outra, vão acontecendo fatos pitorescos em nossa vida, mas não se preocupem, logo divido com vocês. As histórias vão aparecendo, entrando nas nossas vidas, nos chamando a atenção; felizes daqueles que, como eu, procuram sempre estar observando tudo, tirando proveito de ter boa memória e colocar no papel com certa facilidade.
Até a próxima, inté!
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.