Coisas da Vida

João sentado no banco da praça pensando na vida presente, porque a futura não lhe pertence

Foto ilustrativa: Pixabay

Coisas da Vida

*Por Carlos Galetti

Esta é a história de mais um João, João como um milhão de Joãos. João que não é ninguém, João como existem mais de cem.

João sentado no banco da praça pensando na vida presente, porque a futura não lhe pertence; vive cada dia tal qual fosse o derradeiro. Em determinado momento, sente vontade premente de desabafar, fazendo-o com o transeunte que passa.

Ei! Transeunte!

Deixe que lhe assunte minha vida, minha sina,

Coisa de homem comum se vê em cada esquina.

Destino agourento, carrego n’alma peso de jumento.

Tomo um pouco do seu tempo, também para desabafar,

Afinal, fui feliz um dia, tive família e gente amada,

Mas tudo ficou pela estrada, não há por que voltar.

 

Seu Moço dê sua atenção, mas não ouça com a razão,

Abra os ouvidos do coração para esse louco enlutado.

Fui feliz um dia, hoje erro pelas sarjetas do pensamento,

Navego pelas tristezas, ensandeço nas incertezas.

Cidadão! Tive mulher amada, crianças encantadoras,

Um lar acolhedor, para onde voltava no fim do dia.

 

Hoje o frio me é constante, dentro e fora do corpo,

Partiu minha amante, sou mero ser amorfo.

Abandonou seu homem, partiu com novo amor,

A mim, pobre molambo, só restou imensa dor.

Abandonou, eu e as crianças, sós, sem esperanças.

Ah! Seu moço situação desesperada, fiquei desorientado,

Com meus filhos, gente pequena, me sentia derrotado.

 

Só a força de Deus para segurar um homem,

Pensei beber até morrer, pois não sabia o que fazer,

Mas olhei para os meus filhos, a luta só começava;

Ainda sofreria muito, pela solidão das madrugadas,

Choraria desgostos, mas sempre protegeria os garotos.

 

Assim é essa história de um homem sofredor,

Criei meus dois filhos, agora é gente grande,

Grande no tamanho e também na profissão,

Ostentam anel no dedo e diploma de doutor.

 

Mas, veja seu moço, que ironia, situação estranha,

Apesar de todo o sacrifício, eles sentem vergonha.

Sinto em seus olhos, em pequenas atitudes,

Vejo que não há meu lugar, suas ações aludem.

 

Por isso moço, sigo minha triste sina,

É muita coisa para um só homem, fico aqui na esquina.

Obrigado seu moço pela paciente atenção,

Mas sem dor nem compaixão.

 

Basta seguir seu caminho,

Na próxima esquina, encontrará história parecida,

Pois, a bem da verdade, essas são coisas da vida.

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

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