Com 548 casos de dengue notificados em agosto, vereadores de Foz insistem em projeto para proliferar o mosquito da doença

Como predador, o tucunaré reduz a população de outras espécies que, em sua maioria, têm larvas de mosquitos na dieta

Foto ilustrativa: Pixabay

Embora, só em agosto deste ano, tenham sido notificados 548 casos suspeitos de dengue em Foz do Iguaçu vejam aqui), o vereador Maninho, que foi cassado pela justiça eleitora (vejam aqui), apresentou neste mês de setembro uma emenda ao projeto de Lei de sua que deve beneficiar ainda mais a proliferação do mosquito transmissor da doença no Lago de Itaipu.

Tal emenda amplia a proteção à praga chamada de tucunaré, que infestou o reservatório da usina de Itaipu, com novas medidas para proibir a pesca dessa espécie invasora.

Reprodução do boletim divulgado pela Prefeitura de Foz do Iguaçu que alerta sobre os casos suspeitos da doença registrados em agosto de 2022

O projeto de Lei em questão que quer tornar obrigatória a prática do pesque e solte de tucunarés é, na verdade, um convite para ampliar a proliferação do mosquito da dengue no Lago de Itaipu. A espécie é originária da Bacia Amazônica e se tornou uma praga na Bacia do Paraná.

Sem qualquer base científica, o projeto de Lei não leva em consideração o fato de o tucunaré, como um voraz predador, reduzir em muito as espécies de peixes nativas, cuja dieta inclui o consumo de insetos e suas larvas, entre elas as do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como a dengue, chikungunya, zika e febre amarela.

Tal constatação é baseada nas análises das vísceras de tucunarés, que vêm sendo realizadas ao longo de mais de uma década até os dias atuais, por pesquisadores da Itaipu Binacional e do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupelia), da Universidade Estadual de Maringá,

Segundo dados coletados em campo, desde 2001, analisados pelos pesquisadores, o tucunaré, depois de reduzir a população das chamadas espécies forrageiras, adota a prática do canibalismo, o que faz a sua população diminuir bastante.

Com a sua população diminuindo, as espécies forrageiras voltam a aparecer, iniciando um novo ciclo, assim como ocorre em outros reservatórios infestados por essa espécie invasora, oriunda da Bacia Amazônica.

As pesquisas realizadas até agora, também revelam que algumas espécies forrageiras são importantes na dispersão de sementes da floresta marginal e o próprio pesque e solte não é garantia de que o exemplar vai sobreviver – as chances são de 20 a 80%, de acordo com o estresse de captura e retorno.

Resumo da ópera: com a soltura dos tucunarés pescados, as espécies que comem as larvas de mosquitos ficam ainda mais reduzidas, o que, quer queiram ou não, permite a maior proliferação do mosquito da dengue.

Para se ter uma ideia da voracidade desse peixe, veja abaixo algumas das espécies que compõem o cardápio do tucunaré:

Opinião
Na verdade, tal projeto, que tem como justificativa incentivar o turismo da pesca esportiva e a preservação do meio ambiente, representa a perda da oportunidade de controlar uma espécie invasora altamente voraz e é um risco ao próprio meio ambiente e à saúde pública.

Vale ressaltar que, nos últimos doze meses, Foz do Iguaçu registrou 1.534 casos de dengue e quatro mortes em consequência da doença.

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