Criador do Carnaval da Saudade fala sobre as novas regras impostas pela Prefeitura de Foz neste ano

Em vista da polêmica em torno do Carnaval da Saudade, o Não Viu? procurou quem inventou esse carnaval e, ainda, a Canja do Galo Inácio, o publicitário e jornalista Rogério Bonato.

Mentor do corvo que escreve a coluna No Bico do Corvo, do jornal Gazeta Diário, Bonato lembrou na edição desta sexta-feira (1°) do jornal a genial música de João Bosco chamada Plataforma, que diz o seguinte:

Não põe corda no meu bloco
Nem vem com teu carro-chefe
Não dá ordem ao pessoal
Não traz lema nem divisa

Que a gente não precisa
Que organizem nosso carnaval…

Vamos à entrevista com Bonato.

O que você achou dessa história da Prefeitura de Foz do Iguaçu impor regras para o Carnaval da Saudade?
No início fiquei um pouco desconfortável, porque sei que as regras afetariam os frequentadores, na maioria idosos, que acompanham os netinhos ao evento, em verdade uma Matinê. Mas quando eu era o presidente da Fundação Cultural, também adotava medidas impopulares, mas eram necessárias. Hoje, o Carnaval da Saudade ganhou outra dimensão e, diante disso, as responsabilidades aumentam. Nenhum gestor público quer ser penalizado ou pela omissão ou pelo risco aos foliões.

Não é constrangedor revistar pais e avós para entrar na folia?
Apesar da regra, não acredito que a polícia, ou GM, revistarão todos os foliões. Isso se dá mais para pessoas suspeitas e que, em gera,l já chegam alteradas pelo uso de bebidas. Mas, quando há revista, os demais se sentem protegidos também. Não vejo constrangimento. Entendo que a dureza na divulgação das regras ajuda a selecionar o público.

Você acha correto só permitir a entrada apenas por uma rua?
Isso de uma rua só não vai funcionar. As pessoas entrarão por todos lados. Por isso, é melhor um policiamento em todo o local do evento, no lugar de revistar os foliões. É temerário pensar que as pessoas darão a volta no quarteirão para uma única entrada. Fechar o local, derruba a liberdade e a expressão popular da festa. O nome já diz, ‘carnaval de rua”, o que não é isso, não é carnaval. É como diz a música do João Bosco.

Na sua opinião, quem mais se diverte no Carnaval da Saudade: crianças ou adultos?
O Carnaval da Saudade é uma festa de todos, de todas as idades e a maioria dos frequentadores é formada por moradores do centro, pessoas que iam aos bailes de clubes, que não existem mais. É um evento para quem aprecia as marchinhas, o que por si, é seletivo. É quando os avós, apresentam e ensinam o que é Carnaval de verdade aos netos.

Você acha que essas medidas vão tirar um pouco do brilho e da espontaneidade do Carnaval da Saudade?
Isso causou impacto, como sabemos, tanto que a Fundação Cultural recuou, porque sentiu o termômetro popular. No fim, as pessoas entenderão como “organização”. O caso é que não se sabe de uma briga ou fatos que justifiquem as regras. Só se um folião idoso tenha atirado a bengala ou a dentadura em outro, conforme o corvo relatou.

Já que estão mexendo na festa, não seria o caso de montar um confessionário nas redondezas?
Carnaval é irreverencia, expressão corporal, manifestação da alegria. É a maior festa popular do Brasil e não se pode tentar organizar como fosse um desfile militar. Mas a Fundação apenas quis impor um pouco mais de organização. Devemos ter em mente que haverá um Carnaval nas proximidades, na Praça da Paz, onde participarão foliões de todos os bairros da cidade. A Fundação apenas mandou o recado de que a festa será organizada e mais controlada. O que aconteceu é que a cidade já desenvolveu um senso de carinho pela festa e não quer que ela mude em nada, daí o espanto diante das regras. Mas creio que a Fundação vai contornar isso.

Mudando de assunto, como você vê hoje a Canja do Galo Inácio, que você criou?
O tempo se encarregou de algo interessante: a Canja do Galo Inácio está extremamente associada ao Carnaval da Saudade. Hoje, a Canja é considerada um patrimônio, um bem iguaçuense, sendo assim, com o passar dos anos aumenta mais o preciosismo dos envolvidos. O bom é ver que a entidade mantenedora agarrou o evento de um jeito, que ele crescerá e durará muito tempo. Refiro-me ao Rotary Club de Foz do Iguaçu – Grande Lago. Os voluntários assumiram o evento, sem mudar uma linha do estatuto, pelo contrário, agregaram muito valor institucional à causa que é tratar da infância e nutrição. São pessoas incrivelmente organizadas e com poder de fazer as coisas acontecerem, com muita motivação e determinação. A Canja não poderia estar em melhores mãos.

Qual a próxima ideia que você esta elucubrando?
Penso que vou me aposentar das invenções. Vou deixar isso para as novas gerações. O que penso seriamente em voltar a fazer, é o Festival do Humor Gráfico das Cataratas, uma marca mundial no ramo do cartunista e que muita gente vive insistindo em fazer de novo. O evento é a prova inconteste de como o ciúme é destrutivo, de como a ignorância e a maldade fazem mal à nossa sociedade. O Festhumor salvou a cidade de sérias acusações de envolvimento com o terrorismo e olha o que ganhamos: 15 anos nos defendendo de denunciações caluniosas. Das 23 denúncias, apenas uma prosperou e deve, como nas demais, provar que nada foi feito de errado. Veja o que fizeram com o Ziraldo, o Zélio? Enfim, quem fez é que apanhou e está exposto ao rancor dos que nada fazem. Mas eu prefiro pecar fazendo.

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