O debate continua: sobre a Unila, alguns pingos nos iis. E sem ponto final

O Parque Tecnológico Itaipu foi um dos motivos que atraíram a Unila a Foz, que ainda hoje usa algumas das instalações.

Repercutiu muito artigo publicado aqui no Não Viu? sobre a Unila e a redução dos investimentos do governo federal, já que as obras da sede foram paralisadas e não há projeto, até agora, para a construção de uma nova.

A repercussão foi grande, tanto dos que apoiam essa decisão, como dos que criticaram o blog por dizer que isso é o certo. Mas vamos lá, ponderar com calma e sem paixões.

Como os “esqueletos” dentro da Itaipu estão abandonados e podem nem ter mais condições de aproveitamento – a não ser a um custo altíssimo -, a solução seria utilizar uma nova área e fazer um projeto mais condizente com a realidade brasileira. Com isso, acho que todos estão de acordo.

O que se sabe é que a Unila e a Prefeitura estão lutando em conjunto para obter a área da União atrás de onde funciona a sede da Polícia Federal. Mas, por enquanto, nada está definido. O Não Viu? publicou matéria sobre o assunto. Leia aqui.

Agora, em relação à Unila, à parte as críticas que se possa fazer ao projeto considerado megalômano, do escritório de Oscar Niemeyer, não dá pra esquecer que foi graças à então diretoria de Itaipu (Jorge Samek à frente) que a universidade veio para Foz do Iguaçu.

A Unila poderia ter ido pra qualquer outra fronteira – e a mais cogitada ficava lá mais ao Sul, onde o Brasil se liga ao Uruguai e à Argentina, pelas condições favoráveis. Houve, nos bastidores, uma guerrinha surda pra ver quem atraía a instituição de ensino superior.

Foz ganhou graças à Itaipu Binacional. A usina ofereceu uma sede provisória, no PTI, e ainda um terreno dentro de sua área.

O Ministério de Educação acatou a sugestão, como consta em reportagens da época. Sem Itaipu, que pagou também o projeto de Niemeyer, Foz ficaria sem a universidade que, pelos planos originais, deveria ter dez mil alunos (hoje, tem quase a metade disso, pouco mais de 4 mil).

Os erros

Houve dois grandes erros: Itaipu não precisaria oferecer um espaço dentro de seu terreno, porque há outras áreas de que poderia dispor (que são dela, frise-se), como aquela que existe na Avenida Paraná, bem pertinho do Instituto Federal de Educação Tecnológica – Ifet. O Ifet, por sinal, está instalado onde era o Floresta Clube, área de Itaipu.

Naquele local, a Unila funcionaria num espaço de muito verde no entorno, uma maravilha.

O outro erro foi a Unila concordar com o projeto de Oscar Niemeyer (na verdade, do escritório dele, já que o arquiteto tinha mais de 100 anos e já não tinha condições de planejar coisa alguma), que Itaipu apresentou.

O projeto saiu caro e, mesmo com os técnicos de Itaipu fazendo muitas adaptações antes de as obras começarem, já se sabia que o custo da construção seria mais elevado que as previsões.

Projetos de Niemeyer, por mais bonitos e mais atrativos que sejam, são pouco práticos, com pouca preocupação ambiental e muito menos com o conforto dos usuários.

E, por azar, ainda houve “conflitos jurídicos” entre o consórcio construtor e os contratantes (Unila). O projeto parou e ficou ao abandono, não depois de ainda receber um investimento pra não se deteriorar de vez (agora, já não se sabe se isso adiantou).

Mas a proposta pedagógica da Unila, embora hoje possa ser criticada, já que mudou a política e com ela os ideais, tinha embasamento em experiências na Europa, como o projeto Erasmus, que promove o intercâmbio e a mobilidade de estudantes universitários dos países da região.

Apoio

Quando a Unila foi anunciada oficialmente, em Brasília, estiveram em Foz não só dirigentes de Itaipu, da Universidade Federal do Paraná e de outras universidades públicas do Paraná, como também de instituições de ensino particulares de Foz do Iguaçu.

O então prefeito, Paulo McDonald Ghisi, afirmou na solenidade: “Recebemos de braços abertos esta universidade. É um reconhecimento da importância do desenvolvimento conjunto de toda a América Latina”.

O diretor-geral brasileiro interino de Itaipu, João Bonifácio Cabral (ele substituía Jorge Samek no cargo), disse: “Consideramos essa iniciativa um marco histórico. Representa uma oportunidade de transformação da região, tanto em termos culturais quanto econômicos. A Itaipu está honrada em dar o apoio que viabilizou o projeto, comprometendo-se em ceder a área em que será instalado o futuro campus e oferecendo espaço físico para o seu funcionamento provisório”.

Ele disse ainda que a criação da Unila viria “se somar aos esforços que já vinham sendo feitos pela Itaipu para apoiar e impulsionar o desenvolvimento tecnológico na região, dos quais resultaram a criação do Parque Tecnológico Itaipu”.

“Creio que essa universidade vai se beneficiar da sinergia com o PTI e com as demais instituições de ensino superior que já estão presentes em Foz do Iguaçu. Estamos inaugurando uma nova etapa no processo de desenvolvimento da região,” concluiu Cabral.

Veja quem estava em Brasília no dia do anúncio: Maurício Requião (secretário estadual de Educação), Lígia Pupatto (secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), Carlos Moreira Júnior (reitor da UFPR), Décio Sperandio (reitor da UEM), Alcibiades Luiz Orlando (reitor da Unioeste), Aldair Rizzi (presidente do Lactec), Juan Carlos Sotuyo (diretor-executivo da FPTI), Fouad Mohamad Fakih (presidente da Uniamérica), Antônio Alpendre da Silva (presidente da APIESP), Cezar Antonio Caggiano Santos (vice-reitor da UEL), Acir Amilto do Prado e Ludovico Omar Bernardi (representando a União Dinâmica Cataratas). Também marcaram presença os deputados federais Eduardo Sciarra, Rocha Loures e Osmar Serraglio.

E agora?

Hoje, a Unila está espalhada por vários prédios alugados, precisa de uma sede pra poder crescer, se expandir, mas faltam recursos. O governo federal reduziu a verba exatamente porque não há o que construir.

O que Foz do Iguaçu precisa fazer é apoiar a Unila. Se a segunda ponte, o viaduto e a Perimetral Leste são fundamentais para a infraestrutura da cidade, para que possa crescer e atrair mais visitantes, a Unila tem um papel preponderante na formação de acadêmicos que possam, por sua vez, atrair e criar empresas e fomentar os negócios.

Foz do Iguaçu não quer indústrias comuns, que não combinam com turismo. Quer empresas do setor de alta tecnologia, agora apoiadas por leis municipal, estadual e federal. Uma zona franca para a alta tecnologia, como diz o secretário de Turismo, Indústria, Comércio e Projetos Estratégicos, Gilmar Piolla.

Dos bancos da Unila e das outras instituições poderão sair muitos profissionais talentosos e preparados. Sem contar que a Unila oferece, além das engenharias, um curso de Medicina.

Quanto à vinda de alunos estrangeiros, quem diz que o intercâmbio com os vizinhos é ruim? Ao contrário. Não é por acaso que a Europa favorece esta troca de experiências entre estudantes. Nem que os Estados Unidos abram bolsas de estudo para atrair talentos do Terceiro Mundo.

De certa forma, ao aplaudirmos o corte de verbas da Unila feito pelo governo federal estamos dando um tiro no pé do nosso futuro.

Não dá pra esquecer que a Unila tem atualmente mais de 2.400 alunos de Foz do Iguaçu e região. Fazendo bons cursos, gratuitamente.

Que venham as verbas, a nova área, o novo projeto da sede (mais viável, claro) e recursos pra instituição se expandir. Foz do Iguaçu precisa da Unila. E a Unila precisa de Foz!

 

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