É curioso. O Paraguai foi um dos poucos países da vizinhança onde a Odebrecht não conseguiu montar esquemas de subornos para conseguir obras públicas.
Sabe-se que as autoridades paraguaias, como as daqui, não são exatamente um modelo de honestidade. É um país onde a “coima” prolifera. Sabe-se, também, que a Odebrecht tentou entrar no país. Mas desistiu. Por quê?
O La Nación traz este assunto, na edição desta quarta-feira (22), em entrevista com o presidente do Banco Central do Paraguai, Carlos Fernández Valdovinos.
Ao contrário de outros países, o Paraguai recusou-se a aceitar a inclusão de prestação de serviços (como os da Odebrecht) no Convênio de Crédito Recíproco, documento firmado em 1982 entre os bancos centrais do Brasil, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
A Odebrecht operava em outros países com esta garantia: se não recebesse dos governos locais por obras efetuadas, o pagamento seria feito pelo Banco do Brasil.
“Nós nos opusemos porque esse crédito do Acordo de Crédito Recíproco é apenas para garantir transações de comércio exterior, não podemos garantir a prestação de serviços como a construção”, disse o presidente do Banco Central do Paraguai.
Com isso, o país escapou do escândalo internacional provocado com a divulgação do modus operandi da Odebrecht, que efetuava pagamento de subornos a altos funcionários para garantir vitória em concorrência de obras públicas. Sob a complacência (no mínimo) das autoridades brasileiras.
Fernández Valdivinos que, com a recusa do Banco Central paraguaio, “eles (Odebrecht) tiveram que buscar outro mecanismo, por isso o pouso da empresa no Paraguai não deu certo”.
O presidente do BCP deixou claro que, como técnicos e especialistas em operações financeiras, os integrantes do Conselho de Administração do banco não utilizariam reservas internacionais para garantir obras públicas.
Um pé no Paraguai
Depois que Horacio Cartes assumiu a presidência, em 2013, historia o La Nación, a Odebrecht abriu um escritório regional no Paraguai, que ficou a cargo do diretor financeiro da empresa, Marco Rabello, que atuou no país como diretor de Desenvolvimento de Negócios.
Em 27 de maio de 2013, Marcelo Odebrecht (ex-CEO da organização Odebrecht, hoje condenado por escândalos de corrupção) foi ao país para marcar uma reunião com Cartes, para expor suas intenções de realizar vários projetos.
Mas a ideia básica de Marcelo era fechar operações com base nas diretrizes estabelecidas no Acordo de Crédito Recíproco, utilizando as reservas internacionais como fiadora dos negócios O plano esbarrou na recusa do BCP.
O diretor de Desenvolvimento de Negócios do Paraguai, Marcelo Rabello, considerado um dos homens mais habilidosos da empresa, tentou de todos os jeitos “convencer” as autoridades paraguaias.
Ele fez várias reuniões com autoridades nacionais, com empresários paraguaios de diferentes áreas, mas não conseguiu impor seu plano, que necessariamente teria que ser apoiado pelo BCP para a operação financeira.
Em outros onze países da região (são 12 com o Brasil), a Odebrecht atuou livremente, conseguindo grandes obras e tendo a garantia de pagamento dos bancos centrais.
Só em três países ela não teve sucesso: no Paraguai, no Chile e na Bolívia.