Com a ajuda do meu grande amigo e parceiro, o fotógrafo Caio Coronel, com quem este editor teve o privilégio de trabalhar na Divisão de Imprensa de Itaipu, consegui obter as edições digitalizadas do premiado Jornal da Itaipu, escrito sob a batuta do jornalista Hélio Teixeira de Oliveira.
Na época, Hélio teve a ideia de criar a seção “Os Causos da Itaipu”, para resgatar e publicar no jornal relatos hilários dos empregados da usina de situações que ocorreram desde o início da construção da obra.
Portanto, para não deixar que essas informações se percam no tempo, o Não Viu?, a partir de hoje (12), criou a seção “Do Jornal da Itaipu” para publicar reproduções de matérias interessantes deste jornal mensal.
A primeira delas, como não poderia deixar de ser, é uma da seção dos “causos”.
Vale a pena ler para rir muito.
Jiboia ou sucuri?
“No último dia 6 de fevereiro de 1998, o relações públicas Neri Cassel mostrava detalhes da Usina a dois americanos e um alemão, representante da Siemens.
Quando estava no alto da barragem, na cota 225, um dos americanos começou a gesticular, apontando para a água, na área próxima à antiga escada de peixes, onde se acumulam enormes dourados, pacus e pintados.
– Look, look, it’s a snake! (Olhem, olhem, é uma cobra!)
Com seus olhos de lince, Cassel, veterano pescador e conhecedor dos mistérios do Rio Paraná, decretou:
– É uma jiboia que está comendo os peixes.
E, no seu inglês impecável, traduziu para os gringos: “the snake is eating the fishes”, emendando para o alemão, que falava um português esfarrapado: “the jiboia nhac-nhac the fishes, ok?”
Ok.
Nisso, passa pela 225 o colega dele, Marco Antônio Gubert, com outro grupo de turistas, e é alertado sobre o ataque da “jibóia”.
Cavaleiro, conhecedor das pradarias da fronteira no lombo de seu “Pingo”, Marco Antônio nem pestanejou:
– Não é uma jiboia, porque jiboia come cobra, não come peixe. Aquilo lá é uma sucuri e, pelos meus cálculos, tem uns 5 metros”, liquidou.
Normando Fiorentin, o motorista que estava no ônibus com Marco Antônio, diz conhecer jararaca e cascavel só pelo olhar das ditas cujas, imagine-se então corpulentas e reforças jiboias e sucuris.
Ele ficou com Marco Antônio, garantindo que a cobra era uma sucuri – “mas tem uns 7 metros”. A informação do “peixecídio” chega ao Centro de Recepção de Visitantes, que movimenta repórter, fotógrafo e cinegrafista, transmite à área de Meio Ambiente, responsável pela preservação da ictiofauna, e ao escritório de Curitiba.
Em questão de minutos, já não era uma cobra, era o Butantã transferido para as águas do “Paranazão”. Cassel, os americanos e o alemão resolvem então examinar “in loco” se era uma jiboia ou uma sucuri que atacava os peixes. Frustração e desânimo.
Era uma rede de tela que se soltou da antiga escada de peixes e, pelo movimento das águas, parecia ser uma cobra abocanhando os peixes. Foi complicado reverter a história.
Mas tem gente garantindo que, depois de se empanturrar, a jiboia (ou seria uma sucuri?), mergulhou e foi para a margem paraguaia tomar um sol e descansar”.