Doador merece atendimento preferencial? A duvidosa enquete de um vereador

A Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu quer saber: “Você concorda que doadores de órgãos, sangue e medula óssea tenham atendimento preferencial em bancos, lotéricas e supermercados?”

A enquete deve ter sido preparada por algum vereador, interessado em criar mais uma lei esdrúxula. Se houver muitos votos favoráveis à proposta, claro.

Mas, pelo jeito, ainda não emplacou. São só 21 votos até agora, e prevaleceu o bom senso: o “não” vence por 76%, ou seja, 16 votaram contra e cinco são favoráveis.

Pura perda de tempo. Provavelmente ninguém teria coragem de dar o “carteiraço” de doador numa fila, ainda mais se for jovem e aparentar excelente saúde, juntando-se a deficientes, idosos e grávidas.

O vereador, antes de propor a enquete, deveria ter ouvido quem entende do assunto: os hemonúcleos.

Quem faz a arrecadação de sangue sabe que oferecer vantagens ao doador é a pior política. Não se deve doar sangue – ou o que for – pra ganhar um dia de folga ou qualquer vantagem.

A doação deve ser por amor, por altruísmo. A pessoa, ao doar, deve estar consciente da importância deste ato, que é por solidariedade, para salvar uma vida.

Ou você acha que a doação merece alguma vantagem? Aí, não é doar. É trocar.

A intenção do vereador pode até ser boa, mas talvez ele também queira trocar um projeto de lei por votos de doadores. Ou não? É o tipo de ideia que se presta a gerar comentários maldosos.

Ah, e a lei nem é original. Existe em algumas cidades brasileiras, mas também gera polêmicas e não é respeitada. Vale lembrar: quem vai gostar de ceder a vez a algum garotão ou garotona saudáveis apenas porque doam sangue uma vez por ano? Ou duas?

Sair da versão mobile