E agora, José?

Observo que a transformação se deu mais no espírito, posto que fomos visitados pelo desespero da morte

Ilustração: Pixabay

E agora, José?

*Por Carlos Galetti

Mais uma vez diante do computador, diante do cursor intermitente. Pensando, qual o caminho a percorrer, escolhendo o tema sobre o qual debater.

Ocorre-me a situação atual, o que passamos, os desesperos, as perdas, os sofrimentos, as apreensões, as desesperanças. Estamos em outros tempos, fechamos um ciclo, não estamos livres, mas menos chorosos.

Tempo de chorar perdas, sorrisos nervosos, momento de cair em si. Jamais seremos os mesmos, mudamos por dentro e por fora, somos experientes em sofrimentos, o tempo passou, as verdades se impuseram, cabe-nos o rescaldo do espírito e do corpo.

Enquanto me contorcia para jogar no papel tudo o que me ia na alma, pensava numa poesia de Carlos Drummond de Andrade e perguntava:

– “E agora, José… José, para onde?”.

A pandemia dá sinais de partida, apesar de sabermos que conviveremos ainda por muitos anos com seus efeitos.

Assobio uma música da querida Rita Lee: – “Olha o que foi meu bom José, se apaixonar pela donzela, dentre todas a mais bela, de toda sua Galileia…”.

Somos os “Josés” perdidos pelo tempo, afogados nas desgraças, mortos pelas confusas ou intencionais dúvidas das autoridades sobre ser azitromicina ou hidroxicloroquina, qualquer outro, afinal é eficaz ou não. Quantas dúvidas, quantos vai e vem, e o povo, verdadeira bola de “ping pong”. Indo e voltando e morrendo no meio do caminho.

Entes que se foram, fichas que caíram, dúvidas atrozes, bifurcações que se estendem, levando-nos para caminhos escusos e confusos. Vacinas vacilantes, remédios dúbios, soluções insolúveis.

Observo que a transformação se deu mais no espírito, posto que fomos visitados pelo desespero da morte, nos entristecemos com a perda de amigos e parentes, amargamos a saudade dos tempos idos e que não voltam.

De repente, as perdas aconteciam e nós, ainda traumatizados, olhamos para o lado e perguntamos:

– E agora, José, para onde?…

Antes, éramos o admirável gado novo, agora nem sabemos o que somos, mas sinto uma mudança, corremos e gritamos, nos impomos e choramos. Há uma luz lá no fim do túnel, que diz venha, veja e vença.

Estou plagiando alguém, ou quase, veni, vidi vinci (vim, vi, venci), se bem me lembro, Caio Júlio César. É da antiguidade, aí pode, ainda mais fazendo um bom uso.

O Grande Mestre disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. A estrada está posta, se não aprenderam agora, quando aprenderão? Quer que desenhe?

Seja José e não, simplesmente, Zé!

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

 

Sair da versão mobile