Dólar “explode” na Argentina; ultrapassa os R$ 4,15 no Brasil; e afeta também a moeda paraguaia, que já sofre uma desvalorização crescente.
A situação altera toda a relação que havia até recentemente no comércio das três cidades de fronteira. Agora, mais e mais paraguaios estão indo fazer compras em supermercados da Argentina, invertendo o fluxo normal.
O Paraguai quer combater o contrabando, mas a lei permite que cada paraguaio compre o equivalente a US$ 150 por mês nos países vizinhos.
Como a inflação argentina é elevada (previsão oficial de 42% este ano), os hermanos também vêm ao lado brasileiro para fazer compras em supermercados e lojas, porque para vários produtos os preços daqui são bem menores.
De sua parte, brasileiros já perceberam que os preços no comércio de Puerto Iguazú, se for feita uma boa pesquisa, podem ser bem interessantes (sem contar os vinhos, claro, estes continuam acessíveis).
Mas o comércio argentino faz seu próprio câmbio. Pela cotação oficial, R$ 1,00 equivale a 9,57 pesos. Mas as lojas fazem a cotação de 8 pesos por R$ 1,00, o que tira boa parte da vantagem cambial.
Talvez por isso, os supermercados permanecem meio vazios, bem como as lojas em geral. Os argentinos não têm dinheiro pras compras e os vizinhos não vão em número suficiente pra movimentar o comércio de Puerto Iguazú, que deverá viver uma das piores crises de sua história, com o pacote de ajustes da economia decretados pelo presidente Mauricio Macri.
Básicos
Para os paraguaios, os produtos mais em conta em Puerto Iguazú são o açúcar, o azeite e os ovos, além de artigos de limpeza, queijos e verduras, como aponta o jornal Vanguardia.
Mas a inflação provoca alguns absurdos, como um desodorante custar o equivalente a apenas R$ 6,00 (no Brasil, o mesmo produto sai por R$ 10 ou mais) e um sabonete o dobro disso.
Por isso, só quem tem noção dos preços no Brasil pode adquirir produtos com vantagem na Argentina.
Os paraguaios também vêm às compras em supermercados no Brasil.
Eles já descobriram que nos atacadões os preços são mais em conta e já formam agora um público crescente de consumidores.
Ciudad del Este
Já em Ciudad del Este, a queda nas vendas é provocada principalmente pela fuga do consumidor brasileiro, ante a alta do dólar, que há dias superou a barreira dos R$ 4 e por lá ficou. Os argentinos, então, com o dólar valendo mais de 40 pesos, sumiram.
Mas, embora em proporção menor, o guarani também se desvalorizou – 6% só nos últimos dias.
Importações
A desvalorização do guarani, somada ao que acontece no Brasil e na Argentina, aumentou as incertezas no Paraguai em relação ao que resta do ano. E isso já afeta as compras paraguaias no mercado internacional para atender o comércio da fronteira.
As chamadas importações pelo regime de turismo tiveram queda no ritmo, nos últimos meses. Enquanto em abril subiram 15,5% na comparação com o mesmo mês de 2017, em maio foram 9,6% maiores, em junho 2,4% e em julho subiram apenas 0,6%. E a tendência é de as importações prosseguirem em queda.
Neri Giménez, presidente do Centro de Importadores do Paraguai, disse que o setor é o primeiro a ser afetado quando há estas flutuações fortes do dólar.
Reposição
“Como os que importam têm uma moeda instável, eles fixam então um preço maior aos bens, o que afeta o nível de consumo”, disse. A queda nas vendas foi de 0,3% no mês passado.
E não dá pra prever como ficará a depreciação do guarani daqui pra frente, porque a alta do dólar afeta os mercados do mundo inteiro.
Em Ciudad del Este, segundo Giménez, as lojas estão vazias, e muitos não têm disposição para fazer a reposição do estoque. Os importadores estão cautelosos até pra fazer estoques pras festas de fim de ano, quando as vendas normalmente aumentam. Eles esperam pra ver como o mercado evolui nos próximos meses.
Indústria
A alta do dólar, que encarece os produtos à venda no mercado paraguaio, afeta também as indústrias instaladas no país, já que elas importam grande parte de sua matéria-prima e já estão se ressentindo da alta dos custos.
Fontes: Redação com informações do Última Hora