Envelhecer

Confesso que me senti o próprio tio sukita, queria sumir no primeiro buraco que encontrasse

Foto ilustrativa: Pixabay

Envelhecer

*Por Carlos Galetti

Minha mulher durante a caminhada me pergunta, alguma dor? Ao que respondo, onde? Ao que acrescento, nessa fase dói tudo.

Ainda dizem que envelhecer é uma arte, coisa nenhuma, envelhecer é f—.

Pior que não tem cerimônia ou preparação psicológica, quando você vê já chegou. Tudo começou quando fui na festa do meu amigo, a garotada dançando, fui lá perto pra ficar olhando; foi quando uma menina me chamou pra dançar, fiquei em polvorosa, não cabia em mim de tanto contentamento. Ao final ela disse: – Aí tio, até que o senhor dança legal.

Confesso que me senti o próprio tio sukita, queria sumir no primeiro buraco que encontrasse.

Existem características que denotam o idoso, as pessoas nem te perguntam, sacam logo a senha de idoso e te jogam na cara, só faltando te empurrar para a fila especial.

Noutro dia cheguei ao banco e vejo uma gostosa fazendo sinal pra mim, fui todo assanhado para o lado da moça, quando cheguei ela perguntou se não tinha ouvido chamar a minha senha, pior que era a minha vez, me perguntei como havia adivinhado e constatei que era o único idoso do pedaço.

Antigamente, outras coisas caracterizavam o idoso, barrigudo, cegueta, sacudo, pavio curto, enfim, predicados que o distinguia do grupo, fazendo-o, algumas vezes, a mudar de grupo.

Hoje vemos idosos, melhores que muito garoto, até assanhados demais. Isso tanto é verdade, que existem estudos no sentido de estender a idade de se considerar as pessoas idosas.

A verdade é que cada um deve viver no seu quadrado. Noutro dia, fomos ao aniversário em uma chácara, saiu o tal convite para o futebol, pensei, campo Society é mole. Dez minutos depois, estava procurando onde ficava o oxigênio, puxando a ar que não vinha, e uma dor horrível na panturrilha, coisa de craque.

Pior que a gatinha, a da dança, estava me olhando com curiosidade. Depois vim a saber que era estudante de medicina; me falou, fica tranquilo, amanhã já estará melhor, ainda aconselhou, não faça essas extravagâncias, o senhor já não tem idade pra isso, sacramentou. Dei um sorriso estúpido.

Resolvi ir de ônibus para o trabalho, meu filho precisava do meu carro, decidi, vou de busão. Do Libra até o centro é rapidinho. E a paisagem, coisa bonita de se ver, vi coisas que não via há muito tempo, e passando de carro pelos mesmos lugares.

O que estragou foi quando a “gatésima”, numa linda minissaia, resolveu me dar o lugar. Notei que os outros caras do ônibus estavam se deliciando com as fartas coxas da moça. Quando disse que não precisava se incomodar, incentivaram; não, fique moça no seu lugar, esse senhor é forte. Quase cheguei a plantar bananeira pra me mostrar.

Acontece cada uma, vou andar mais de ônibus. Estou me sentindo assanhado, mas estou sentindo uma dor muscular.

Será o Benedito!

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

Sair da versão mobile