Enxurrada de números: economia de Foz é a mais frágil do Oeste

Foto: Jair Prandi, cidadesemfotos.blogspot

Não, Foz do Iguaçu não está à frente de Cascavel, conforme divulgação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na semana passada. Estamos atrás em geração de empregos, em massa salarial, em arrecadação de ICMS e em renda média dos trabalhadores.

O crescimento do Produto Interno Bruto de Foz do Iguaçu, em 2015, que teria sido o maior do Estado (24,53%), se deve a um simples fator: o IBGE incluiu todo o orçamento de Itaipu no cálculo, desconsiderando que a metade é do Paraguai, segundo o matemático iguaçuense Luiz Carlos Kossar.

O orçamento total de Itaipu, em 2016, foi de US$ 2,5 bilhões, o que corresponde, à cotação atual, a aproximadamente R$ 8,2 bilhões. Se o total do orçamento entrar no cálculo das riquezas de qualquer município, provocará um impacto muito grande. Mas vale lembrar que metade disso é a parte paraguaia e que, além do mais, 75% do orçamento de Itaipu são para pagar a dívida e os juros da dívida de sua construção.

Mas mesmo a metade do orçamento de Itaipu já é colossal. Ela corresponde a nada menos que 73% da Produção Fiscal (ou PIB) de Foz do Iguaçu.

A usina gera apenas 3% dos empregos do município, mas participa com 17% da massa salarial total. A massa salarial de Itaipu gerou uma renda média, no período de 2009 a 2016, de R$ 850 mil por emprego, o que distorceu o valor da massa salarial total do município.

Esta concentração em uma única empresa pública provoca outras distorções nos estudos sobre Foz do Iguaçu, inflando o PIB do município, mas sem que a isso correspondam mais empregos, mais massa salarial ou maior arrecadação de ICMS aqui do que em Cascavel.

Embora a produção fiscal em Foz do Iguaçu, em 2016, tenha sido superior à de Cascavel, a arrecadação de ICMS não correspondeu a essa realidade. Cascavel arrecadou R$ 1,5 bilhão, enquanto Foz arrecadou apenas R$ 484,6 milhões, de acordo com o Ipardes.

A massa salarial, entre 2009 e 2016, somou R$ 14,4 bilhões em Cascavel, dos quais R$ 14,3 bilhões no setor privado e R$ 53 milhões no estatal; em Foz, massa salarial chegou a 8,6 bilhões, dos quais R$ 7,2 bilhões no setor privado e R$ 1,4 bilhão no estatal.

Projetos podem mudar isso

Antes de mais números, sempre de estudos do Ipardes, vale lembrar que as autoridades municipais estão bem cientes da necessidade de gerar empregos na área industrial e no setor de serviços. Ou, de maneira geral, no setor privado.

Dois projetos já aprovados na Câmara mostram essa preocupação. Um deles é a Lei de Inovação, proposta pela Secretaria de Turismo, Indústria, Comércio e Projetos Estratégicos, para atrair empreendimentos nas áreas de comércio virtual, automação, desenvolvimento de softwares e jogos virtuais, novos produtos nas áreas de informática e telecomunicações, computação gráfica, eletroeletrônicos, gerenciamento e tratamento de dados, plataformas educacionais, mídias sociais, marketplaces, realidade virtual, startups, vídeo mapping e outras.

Outro projeto, também da secretaria dirigida por Gilmar Piolla, reformulou a Lei do Distrito Industrial, que agora se chama Distrito Industrial e Empresarial, possibilitando que ali haja atividades de centros de distribuição de produtos industrializados (de olho nas empresas brasileiras que produzem no Paraguai) e de prestadores de serviços.

De olho nos números

Foz do Iguaçu precisa aumentar com urgência o número de empregos. A taxa de empregabilidade em Foz é a menor da região Oeste. Apenas 20,87% dos iguaçuenses estão empregados, enquanto em Cascavel o percentual é de 28,81%, em Toledo de 31,73% e em Medianeira de 39,97%, para ficar só em alguns exemplos.

Em 2016, enquanto Cascavel gerou 91 mil empregos, quase a totalidade (90,5 mil) no setor privado, Foz gerou apenas 55 mil empregos, dos quais 53,4 mil no setor privado e 1,6 mil no estatal.

Da mesma forma, Foz do iguaçu tem a menor renda per capita por habitante da região, em relação à massa salarial. Enquanto a média dos municípios da região é de R$ 39.692,03, Foz aparece com R$ 32.807,61.

Em Cascavel, a média sobe para 45.557, em Toledo para R$ 46.943,90 e em Medianeira para R$ 50.472,89.

Todos esses números são de estudos do Ipardes.

O setor privado de Foz do Iguaçu é o que menos paga, em relação à média regional, conforme levantamento no período de 2009 a 2016.

A renda média dos trabalhadores do setor privado iguaçuense atingiu R$ 135.078,94, enquanto em Cascavel foi de R$ 158.441,59; em Toledo, de R$ 148.039,02; e em Medianeira, de R$ 126.086,58.

Por outro lado, a Prefeitura de Foz do Iguaçu tem a melhor receita corrente da região Oeste e oferece a seus servidores a quarta melhor renda média. Por consequência, o custo por servidor é o maior entre os vizinhos.

A renda média dos servidores de Foz foi de R$ 320.847,69, entre 2009 e 2016, ante a média geral de R$ 247.985,00. Em Cascavel, o servidor acumulou renda média de R$ 219.723,70, em Toledo de R$ 242.426,42 em em Medianeira menos ainda, de R$ 203.609,58.

Produção fiscal

Pra ficar só no comparativo com Cascavel, a produção fiscal do setor privado daquele município, entre 2009 e 2016, totalizou R$ 34,5 bilhões, enquanto em Foz ficou em apenas R$ 12,4 bilhões. Mas Foz vence a disputa quando entra o setor estatal (vale lembrar, Itaipu), que representou uma produção fiscal, entre 2009 e 2016, de R$ 33,4 bilhões, enquanto em Cascavel foi de R$ 1,5 bilhão.

Por setores, a agropecuária acumulou produção fiscal de R$ 5,6 bilhões em Cascavel, ante apenas R$ 291 milhões em Foz; a indústria de transformação, em Cascavel, teve produção fiscal de R$ 7,5 bilhões, contra R$ 543,5 bilhões em Foz; comércio\serviços participaram com R$ 21 bilhões em Cascavel, contra R$ 10,3 bilhões em Foz. Já no turismo, Foz impera, com produção fiscal de R$ 1,3 bilhão, ante R$ 336 milhões em Cascavel.

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