Eu pescador me confesso
Por Carlos Galetti*
Fala-se que pescador é raça danada pra mentir, por isso, para fazer-me mais convincente, uso um título que acredito me dê certa credibilidade.
Pois é, fui convidado para uma pescaria no Pantanal, lugar que só conhecia a trabalho, tinha notícias de sua beleza, mas que contemplara somente pelos documentários televisivos.
E lá fomos eu e mais três, companheiros bem humorados e participativos; isso é algo fundamental numa pescaria, humor e participação. Carrancudos ou individualistas nem se aventurem, pois correm o risco de serem “cooptados” pelos ETs de plantão.
Agora vamos a parte da veracidade, difícil para o pescador, sempre gosta de florear e, também, aumentar. Sabemos que o planeta sofre mutações, coisas que vão nos trazer mudanças climáticas e do meio-ambiente.
Seus semblantes antes arrugados pelo sol, agora apresentam sinais de tristeza.
O pantanal está muito seco, segundo alguns ribeirinhos a pior seca dos últimos cinquenta anos. Tudo isso trouxe um impacto sem precedentes ao eco sistema da região. Seus semblantes antes arrugados pelo sol, agora apresentam sinais de tristeza. Mas nós não, somos turistas, que vieram pra pescar e se divertir, e com peixe ou sem o faremos.
Sem enrolação, partimos para as maratonas de pescas, acordar cedo e dormir tarde, como ninguém é de ferro, um soninho depois do almoço. Como o rio está baixo (Rio Paraguai e Rio Miranda) a pescaria é atrapalhada pelo excesso de piranha.
Aqui vale uma explicação, piranha atrapalha a nossa pescaria e a nossa vida com nossas amadas. Sabe aquela velha história, eu queria ser bonito como minha mãe me acha, ter o dinheiro que meu vizinho acha que eu tenho e ter as mulheres que minha mulher acha que eu tenho. As nossas mulheres sempre acham que tem piranha no caminho das pescarias.
Para nossa desdita foram treze piranhas, número emblemático, pois dois gaiatos tiveram a ideia de trazer as ditas para foz, logo aqui que tem tantas. Para piorar a situação ninguém tinha freezer para guardar as ditas até a confecção, decisão, vieram todas pra minha casa.
Chego de madrugada, cercado de piranhas, pé ante pé, evitando acordar os viventes do lar. Guardei as meninas, quero dizer os peixes, embalados em plástico e gelo.
No dia seguinte disse a mulher que eram “truviras”, peixes nativos da região. Espero que logo venham pegar este troço aqui. Essa foi por pouco!
*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg.
Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.