O projeto de Lei que tramita na Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu para tornar obrigatória a prática do pesque e solte de tucunarés é, na verdade, um convite para ampliar a proliferação do mosquito da dengue no Lago de Itaipu. A espécie é originária da Bacia Amazônica e se tornou uma praga na Bacia do Paraná.
Sem qualquer base científica, o projeto de Lei não leva em consideração o fato de o tucunaré, como um voraz predador, reduzir em muito as espécies de peixes nativas, cuja dieta inclui o consumo de insetos e suas larvas, entre elas as do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como a dengue, chikungunya, zika e febre amarela.
Tal constatação é baseada nas análises das vísceras de tucunarés, que vêm sendo realizadas ao longo de mais de uma década até os dias atuais, por pesquisadores da Itaipu Binacional e do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupelia), da Universidade Estadual de Maringá,
Segundo dados coletados em campo, desde 2001, analisados pelos pesquisadores, o tucunaré, depois de reduzir a população das chamadas espécies forrageiras, adota a prática do canibalismo, o que faz a sua população diminuir bastante.
Com a sua população diminuindo, as espécies forrageiras voltam a aparecer, iniciando um novo ciclo, assim como ocorre em outros reservatórios infestados por essa espécie invasora, oriunda da Bacia Amazônica.
As pesquisas realizadas até agora, também revelam que algumas espécies forrageiras são importantes na dispersão de sementes da floresta marginal e o próprio pesque e solte não é garantia de que o exemplar vai sobreviver – as chances são de 20 a 80%, de acordo com o estresse de captura e retorno.
Resumo da ópera: com a soltura dos tucunarés pescados, as espécies que comem as larvas de mosquitos ficam ainda mais reduzidas, o que, quer queiram ou não, permite a maior proliferação do mosquito da dengue.
Para se ter uma ideia da voracidade desse peixe, veja abaixo algumas das espécies que compõem o cardápio do tucunaré:
- Lambaris (Astyanax altiparanae, A. fasciatus, A. schubarti e A. bockmanni)
- Pequiras (Bryconamericus stramineus, B. marginais, B.exodon e B. ihengi)
- Lambari de olho vermelho (Moenkhausia sanctafilomenae e M. Intermedia)
- Mandizinho (Pimelodella gracilis)
- Traíra (Hoplias malabaricus)
- Espadinha (Eigenmannia trilineata e E. virecens)
- Cascudo (Hypostomus sp)
- Piranha (Serrasalmus marginatus)
- Tucunarés jovens
- Tamboatazinho (Corydoras aeneus)
Opinião
Na verdade, tal projeto, que tem como justificativa incentivar o turismo da pesca esportiva e a preservação do meio ambiente, representa a perda da oportunidade de controlar uma espécie invasora altamente voraz e é um risco ao próprio meio ambiente e à saúde pública.
Vale ressaltar que, nos últimos doze meses, Foz do Iguaçu registrou 1.534 casos de dengue e quatro mortes em consequência da doença.