na rua
sem resistir
me chamam
torno a existir
Expulso da esquina das avenidas República Argentina e Paraná, ele vai regressar em alto estilo. Agora, sob patrocínio da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, que está escolhendo uma nova área próxima ao centro.
O presidente da fundação, Juca Rodrigues, disse que já está em contato com grafiteiros e que, provavelmente logo depois do Carnaval, fará uma reunião com eles para discutir qual o local mais indicado para instalar um novo mural da poesia de Leminski.
Ambígua volta
em torno da ambígua ida,
quantas ambiguidades
se pode cometer na vida?
Não importa quais versos, o que importa é que o ambíguo – e genial – poeta Paulo Leminski vai voltar às ruas de Foz do Iguaçu.
Ele grafitou…
Grafiteiro contumaz, em uma palestra exatamente sobre esse tema Leminski lembrou, certa vez, de dois grafites que fez nas ruas de Curitiba.
Um deles, em protesto contra a agência de publicidade onde trabalhava, que exigiu que ele ficasse no escritório, em sua mesa, para fazer suas criações. Na mesma hora, ele foi ao muro da frente da agência e escreveu:
Sentado
não tem sentido
E em 1983 (segundo ele recordava), quando a ONU declarou o Ano do Deficiente Físico, ele se inspirou e voltou ao muro:
O torto tem
direito
“A rua é daqueles que passam; o grafite é daqueles que passam”, dizia Leminski.
Então, passantes, viva o grafite! Leminski vai voltar. E, em homenagem à sua volta, o blog traz alguns de seus poemas.
Isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o carme
(e carme, pra quem não sabe, tem como sinônimos versos líricos, canto, poesia.
Mais poemas
Duas escolhidas pela Revista Bula entre os 15 melhores poemas de Paulo Leminski:
Amar você é
coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
E, pra fechar, um poema que paira sobre todos nós, mas que sobre Leminski talvez tenha menor peso do que ele pensou:
um dia sobre nós também
vai cair o esquecimento
como a chuva no telhado
e sermos esquecidos
será quase a felicidade