Parece que o que todo mundo já sabe ou desconfia veio à tona, com o incêndio da semana passada na Galeria Jebai, em Ciudad del Este.
Porém, um leitor do Não Viu?, num comentário postado na notícia do blog que informou o incêndio, fez um relato (bem escrito, por sinal) que deve ser levado em consideração e, portanto, merece um destaque especial.
Vamos a ele.
“Descaso e corrupção.
Eu trabalhei no Jebai de 2005 a 2010. Na ocasião, foi feita uma arrecadação de milhares de dólares para instalação de um sistema de sprinklers (aspersores automáticos), portas corta-fogo e alarme de incêndio.
O resultado foi uma rede que até uma criança entende que era inútil, com sprinklers instalados somente no meio dos corredores e a uma distancia de cerca de 15 metros um do outro.
O sistema de alarme de incêndio ainda não estava concluído quando deixei de trabalhar lá, porém, em 2015 visitei o Jebai
As portas supostamente “corta-fogo” eram meras portas metálicas feitas em uma metalúrgica local. Justo no meu andar, a porta corta fogo (que subentende-se que é uma porta hermética para impedir a passagem de fogo e fumaça de um andar a outro) tinha uma “pequena” fresta de cerca de 20cm na parte inferior. Segundo o “inginiero”, servia para ventilação dos corredores. De qualquer forma, lojistas e moradores criaram mecanismos improvisados para prender as portas abertas. Em um dos andares, uma corrente foi chumbada á parede e foi colocado um cadeado para impedir o fechamento da porta.
O Jebai é tão grande que é praticamente uma cidade. Só quem trabalha ou trabalhou lá sabe que quase semanalmente acontece algum incêndio por causa das instalações muito precárias. Incêndios menores são controlados e impera a lei do silêncio para evitar que chegue à imprensa e às autoridades, para tentar impedir a interdição (e consequentemente o prejuízo dos lojistas).
Todo o complexo (Shopping e torres gêmeas) é uma verdadeira bomba relógio prestes a provocar uma tragédia que pode causar mais vítimas que o atentado do World Trade Center, se um incêndio de grandes proporções acontecer em horário comercial.
Toda vez que acontece uma interdição, alguns lojistas arrecadam dinheiro para subornar as autoridades e permitir a reabertura do shopping, sem que sejam feitas as adequações. Loja fechada causa prejuízos altos, e pagar as propinas é muito mais barato que fazer as adequações necessárias.
É sabido, também, que ALGUNS dos incêndios em depósitos de lojas (incluindo lojas famosas) de CDE são provocados pelos donos das lojas para “queimar o estoque” de produtos que estão encalhados e receber a indenização das seguradoras ou, quando o dono da loja quer reformar (modernizar cosmeticamente) a área de vendas.
Basta investigar um pouco mais a fundo e ver quantas lojas estão protegidas por apólices de seguro redundantes, adquiridas de várias seguradoras diferentes”.
Assinado
Thomas Banton-Ortega
PS: a situação da galeria relatada pelo leitor pode ter mudado de 2015 para cá, mas o incêndio da semana passada indica que essa mudança não ocorreu.