Fim de sonho? Maquiladoras têxteis de Ciudad del Este fazem demissões em massa

Demitidos acorrem para pedir apoio ao Ministério do Trabalho do Paraguai. Foto: La Clave

Está complicada a situação das indústrias maquiladoras do Paraguai, especialmente as que produzem têxteis nas zonas francas de Ciudad del Este.

O diário paraguaio La Clave traz nesta terça, 20, a notícia de que empresas têxteis  estão demitindo em massa seus empregados, com a suspensão da produção.

A fábrica Mabhe S.A. e a Avenpar S.A. entram agora na lista das empresas em crise, onde já está outra têxtil, a Happy Jeans, a primeira a demitir em massa.

Fora do setor têxtil, outra fábrica que paralisou a produção foi a Koumei, que produz luminárias LED para exportar principalmente ao Brasil.

Todas enfrentam a mesma situação: não conseguem vender no mercado brasileiro, que está estagnado, e nem no argentino.

Não é possível saber, ainda, se empresas de outros setores estão também com essas dificuldades, mas dá pra se prever que as que dependem majoritariamente de exportações ao Brasil devem estar com as vendas encalhadas.

Manifestações

Ontem, segunda, houve manifestação de cerca de 120 empregados da Mabhe, e para hoje está prevista a mobilização de outros 70 funcionários da Avenpar, que funciona dentro da Zona Franca Global.

A Mabhe já despediu 70 empregados, segundo La Clave, e a segunda demitiu outros 50. Nenhuma delas pagou as indenizações correspondentes.

O advogado trabalhista José Estigarribia disse ao La Clave que está se agravando a situação de trabalho das pessoas que moram no Leste do Paraguai.

“Nós vemos com muita surpresa que duas fábricas, de um mesmo proprietário, comunicaram que já não vão mais operar, porque supostamente as empresas estão quebradas e por isso não poderão pagar os salários nem a indenização respectiva”, afirmou.

Esta é a causa da manifestação dos trabalhadores demitidos, que vão apresentar uma denúncia administrativa contra os proprietários.

Também na manhã desta terça, haverá uma reunião mediada pelo Ministério do Trabalho entre cem trabalhadores e representantes da empresa Koumei, que também fez demissões em massa.

Pequena análise

Um especialista em Foz do Iguaçu explicou que a situação enfrentada pelas maquiladoras poderia ser prevista.

É que, além de ficarem à mercê do governo paraguaio, em relação às vantagens como alíquotas baixas e até zero de impostos, também ficam dependentes da situação econômica dos maiores compradores, Brasil e Argentina.

No caso, a quebradeira de agora é provocada pela crise nos dois países, principalmente o Brasil, que é o maior comprador da produção das maquiladoras.

Também não se sabe se, quando assumir o novo governo, o Brasil manterá a política atual de facilitar a ida de empresas brasileiras ao Paraguai, com a possibilidade de exportarem seus produtos para cá.

Desistiu

Um iguaçuense acompanhou as tratativas de um empresário que pretendia abrir uma empresa do ramo de tratores no Paraguai, em 2014.

Em 2016, depois de muitos estudos, o empresário engavetou a ideia. O quase investidor concluiu que a maioria das empresas brasileiras que instalaram unidades em zonas francas paraguaias estavam com dificuldades muito sérias no Brasil.

No Paraguai, encontraram facilidades de crédito, de importações sem impostos e mercados abertos nos países vizinhos. Muitas se reergueram. Já para abrir uma empresa nova no Paraguai a situação é bem diferente, e esse empresário concluiu que não valia a pena.

Torcida

Ainda é cedo pra avaliar se a situação das maquiladoras continuará difícil a partir do ano que vem ou se uma possível recuperação do Brasil significará também a volta das exportações ao país.

De qualquer forma, ficamos na torcida para que as fábricas instaladas no Paraguai se recuperem e garantam a nossos vizinhos emprego e renda. É o mínimo que se pode desejar.

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