Quando uma loja do “centro comercial” da Vila A sofrer um alagamento, o proprietário não poderá reclamar. Não foi ele um dos que pediram pra Prefeitura abrir mais vagas de estacionamento? Pois é.
Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? Simples. Quando se retira um trecho onde cresce o verde e no lugar se coloca asfalto ou assemelhado, o local fica impermeabilizado.
Numa chuva forte, como as desta semana, a água, que antes se infiltrava no solo, agora vai procurar outros caminhos. Rua abaixo, onde der. De qualquer forma, sempre em direção aos locais mais baixos. Que pode ser o outro lado da rua. Isto é, as lojas, para voltar ao exemplo da Vila A.
O problema da impermeabilização do solo das cidades é hoje quase insolúvel. Porque não são apenas as avenidas e calçadas, mas todo o espaço ocupado por prédios e casas, com concreto e asfalto cobrindo tudo.
Mas em quase todas as outras ruas, o que era uma moradia pequena, às vezes de madeira, cercada por amplo espaço verde, transformou-se em três sobrados ocupando todo o solo.
Onde havia uma família e um carro (ou dois) agora há três famílias e três carros (ou seis).
Em outros casos, a casa de 50 metros quadrados virou um sobradão com piscina e um ralo jardim. Tudo quase impermeabilizadinho.
E Houston?
Os moradores da rica Houston, no Texas, sabem bem o que significa impermeabilizar uma cidade.
Veja um trecho de reportagem do Jornal Nacional sobre a passagem do furacão Harvey sobre Houston, no dia 28 de agosto, e as consequências da impermeabilização da cidade:
“Nos últimos anos, Houston cresceu muito e o chão recebeu muito mais cimento. A água não tem para onde escoar. No processo de desenvolvimento, ninguém lembrou que ali é rota de furacão e que as chuvas vão vir, uma hora ou outra.
A impermeabilização do solo é uma consequência do crescimento sem planejamento em áreas urbanas do mundo todo. A gente vê o impacto das chuvas nas nossas grandes cidades. A resposta da natureza se traduz em cifras que, talvez assim, consigamos entender: a estimativa é que Harvey possa deixar um prejuízo de mais de US$ 20 bilhões.”
Foz do Iguaçu não é Houston nem é rota de furacões. Mas cresce e seu planejamento deixa a desejar. E as chuvas vão vir, “uma hora ou outra”.