Hoje é domingo, pede cachimbo…

Ensinei os meus filhos que temos de sentir o gosto da conquista, esse é o tempero da luta...

Ilustração: Pixbay

Hoje é domingo, pede cachimbo…

*Por Carlos Galetti

Pede cachimbo, pede chimarrão, algo que aqueça o coração batendo descompassado. Pede olhar pra chuva lá fora, buscando chorar com a natureza, que derrama suas lágrimas sob forma de pingos, umedecendo a terra seca e sufocada.

Fecho os olhos e ouço a minha mãe, nos idos do final dos anos cinquenta, falando para me ensinar os versos que passo a recitar:

Hoje é domingo, pede cachimbo.

Cachimbo é de ouro, bate no touro.

O touro é valente, bate na gente.

A gente é fraco, cai no buraco.

O buraco é fundo, acabou-se o mundo.

Aprendi e nunca mais esqueci, dá vontade de gritar:

– Mamãe aprendi, falo tudo sem errar. Mas fico parado, imaginando se ela escutará.

Não é só a natureza que chora…

A chuva dessa manhã é inclemente, cai anunciando que o dia será nublado, dentro e fora dos seres.

Naquele tempo, perdido nos tempos da chamada infância, lembro que pensava que tinha pé de cachimbo, por causa do primeiro verso. Com o tempo entendi que se tratava do verbo “pedir”. Pede cachimbo.

Pensava em tanta coisa, achava que no cinema todos os artistas e cenários ficavam atrás daquele imenso lençol branco. Acreditava que o mar era uma grande piscina, mas que a outra borda ficava muito longe.

Ensinei os meus filhos que temos de sentir o gosto da conquista, esse é o tempero da luta, o correr atrás, o cair e levantar para continuar lutando. Ao longo da vida, dei-lhes as ferramentas para lutarem, depois dei a direção, mas suas conquistas foram próprias, só deles

Assim fomos crescendo, aprendendo, sofrendo e sendo felizes. Aprendi que nos dá mais experiência os percalços que os acertos. Ficou marcado em minha vida que, se queremos, temos que correr atrás. Nada vem de mão beijada, exige luta e determinação.

Ensinei os meus filhos que temos de sentir o gosto da conquista, esse é o tempero da luta, o correr atrás, o cair e levantar para continuar lutando. Ao longo da vida dei-lhes, as ferramentas para lutarem, depois dei a direção, mas suas conquistas foram próprias, só deles.

Tudo isso me faz sentir abençoado e grato ao Senhor, mas não existe receita, cada qual tem o seu caminho, seu jeito de ser capaz, como bem diz o Almir Sater. Criação não tem regras básicas, somente muita conversa e paciência para diminuir aquela tal diferença de gerações.

Seria fácil se encontrássemos na livraria compêndio de como educar os filhos. Mas o que temos são experiências que deram certo com alguém, não significando que será assim com todos.

Hoje está bom para conversarmos sobre coisas que possam deixar uma mensagem, algum toque, um pouco de experiência.

Invado seus ambientes, roubo um pouco da sua atenção, portanto, nada mais justo que lhes deixe alguma coisa.

Bom domingo, com muita chuva ou pouca, se possível algum sol será bem-vindo.

Até mais!

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

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