Nem intervenção na Prefeitura acaba com propinas no trânsito de Ciudad del Este

Corrupção à luz do dia. Trânsito parado em Ciudad del Este, no sábado. Foto: Vanguardia

O Vanguardia traz a notícia, mas todo mundo que vai a Ciudad del Este já percebeu que o trânsito no sentido Ponte da Amizade piorou nos últimos dias. E não é por causa do movimento de final de ano. É o sistema de “coimas” (propinas) em ação.

O tal esquema é simples: os guardas municipais de trânsito, com três ou quatro apitadas, param tudo, criam engarrafamentos monstruosos.

A seguir, entram em ação os “guias de turismo” de Ciudad del Este, que abordam os motoristas propondo rotas “alternativas” em troca de propina (50 mil guaranis, ou cerca de R$ 30). Os “guias” têm até um jaleco verde com a inscrição “Servicio de Guía al Comprista, CDE Paraguay”, o que dá a entender ser algo oficial. Não é.

As rotas a que são encaminhados os motoristas não permitem o acesso direto à Ponte da Amizade, mas, graças ao dinheiro que rola, os guardas a postos fazem de conta que não veem o que acontece. Em troca da parte deles no “negócio”.

Quem não paga, fica até horas na fila, com os guardas à frente, segurando tudo.

No sábado, segundo o Vanguardia, o trânsito rumo a Foz – que é onde ocorre o propinoduto – estava infernal. Muitos moradores de Ciudad del Este postaram fotos e queixas nas redes sociais.

“Duas horas na fila”

O Vanguardia traz uma das queixas via WhatsApp: “Por Deus, duas horas na fila para ir a Foz e no entanto não chego à rotatória da Monalisa. Podridão desses supostos polícias de trânsito, só no Paraguai! Oxalá que isto mude”.

Era esta, aliás, a esperança de moradores e funcionários das lojas do microcentro de Ciudad del Este. Com a intervenção, esperavam que acabasse o esquema de propina.

Elisa González, que trabalha no microcentro, contou ao Vanguardia que, no dia em que foi aprovada a intervenção no município, turistas brasileiros, que também assistiam tudo por uma tela gigante no local, celebravam. “Muitos brasileiros se aproximavam e diziam que estavam cansados das propinas”, disse.

Às claras

O mais grave é que, como disse Elisa, “não é preciso fazer uma grande investigação pra ver o que acontece. Basta apenas ficar na esquina da (loja) Monalisa e já se vê como funciona”.

O Vanguardia já fez inúmeras reportagens (muitas delas reproduzidas aqui no Não Viu?) sobre o esquema de corrupção no trânsito, mas, como há anuência de autoridades municipais, tudo continua funcionando normalmente.

O jornal lembra que, em julho deste ano, quando um agente da Polícia Municipal de Trânsito foi filmado ao cobrar propina de um motorista para lhe entregar os documentos, houve um grande escândalo e o esquema de “coimas” foi desativado. Já não havia mais engarrafamentos para cruzar a Ponte da Amizade.

Para a interventora

Poucos meses depois, tudo voltou ao que era antes.

?As denúncias feitas em redes sociais e também as recebidas por organizações sociais, nos últimos dias, já estão na mesa de recepção montada na Câmara de Vereadores, pra serem entregues nesta segunda-feira (17) à interventora Carolina Llanes.

Dará resultado?

 

Sair da versão mobile