Mais que “irmãos de alma”, ex-presidente Cartes e doleiro Messer eram sócios

Cartes e Messer em visita da comitiva oficial paraguaia a Israel. Mais que amigos, sócios, diz o ABC Color. Foto: ABC Color

O jornal ABC Color traz reportagens que mostram um vínculo maior do que de simples amizade entre o ex-presidente Horacio Cartes e Dario Messer, o “doleiro dos doleiros”, procurado pela Justiça do Brasil e do Paraguai.

Ambos negavam ligações comerciais, mas há muitos anos eram sócios. Messer fundou a empresa Cambios Amambay, em 1989, que mais tarde se converteria em Banco Amambay S.A., uma das principais empresas do Grupo Cartes.

No início dos anos 1990, Horacio Cartes era foragido da Justiça paraguaia, por evasão de divisas. Cartes foi acolhido no Rio de Janeiro por Mordko Messer (pai de Dario) e passou a trabalhar junto com ele em operações de câmbio, até Cartes vir a Ponta Porã (MS), onde viveu por muito tempo com sua família, num chalé modesto, historia o ABC Color.

Todos os dias, Cartes cruzava a fronteira pra ir a Pedro Juan Caballero, de onde vinham remessas de Messer do Brasil, que eram cambiadas em dólares e retornavam ao Brasil ou seguiam para os Estados Unidos.

O jornal cita investigadores da Lava Jato, que contam que desde aquela época Dario Messer formava parte de um esquema familiar dedicado à lavagem de dinheiro.

O pai dele, Mordko Messer, é considerado o doleiro mais antigo do Brasil.

Escândalos no Brasil

Quanto a Dario Messer, foi identificado nas investigações do escândalo Banestado (anos 1990), no escândalo do Mensalão (2005) e na Operação Sexta-feira (2009), quando a Justiça ordenou a captura dele e de sua mulher, Rosane Messer. Ela acabou detida e ele foi para a clandestinidade.

Em fevereiro de 1992, quando a casa de câmbio tornou-se Banco Amambay S.A., tinha como acionista majoritário Ramón Telmo Cartes, pai do ex-presidente paraguaio. Em 2005, a parte majoritária das ações passou para Sarah Cartes, irmã de Horacio Cartes.

Aproveitando o crescimento do poder econômico e político de seu “irmão de alma”, prossegue o ABC Color, Dario Messer decidiu desembarcar no Paraguai em 2011.

Mas foi depois de 2013, por coincidência com a chegada de Horacio Cartes à presidência da República, que Dario Messer começou a fazer seus maiores movimentos de dinheiro, formar parte de comitivas oficiais e tornar-se invisível para o sistema financeiro formal.

Segundo a declaração jurada de Messer ao Banco Nacional de Fomento (BNF), a maior parte do dinheiro que declarou no Paraguai estava em contas do Banco Amambay, banco que ele mesmo ajudou a fundar em fevereiro de 1989.

Mais negócios

Outro negócio em comum entre Cartes e Messer é nas Inversiones Tournon S.A. Panamá, que no Paraguai tem como sucursal o Banco Amambay.

A Inversiones Tournon foi constituída em 1996, ante o mesmo escrivão que também constituiu quase todas as empresas do Grupo Cartes, entre as quais a Chai S.A., que tem como associados Dario Messer e o primo do presidente Cartes, Juan Pablo Jiménez Viveros, hoje preso e processado por lavagem de dinheiro.

A Inversiones Tournon S.A. também foi aberta como offshore no Uruguay, em 1991, e no Panamá, em 2009. Como dirigente está Óscar Algorta, advogado uruguaio vinculado a Dario Messer e denunciado pela Lava Jato do Rio de Janeiro.

Tournon também figura como dona da fazenda Nueva Esperanza, em Capitán Bado, onde, em março de 2000, capotou um avião com matrícula brasileira que transportava 20 quilos de cocaína.

Publicações da época, diz o ABC Color, indicavam que a propriedade era de Horacio Cartes e que a droga era parte de um carregamento maior, que havia sido enviado ao traficante brasileiro Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira Mar.

Enfim, ligações perigosas, inescrupulosas e que vêm a público agora que Cartes está fora do poder e Messer continua foragido. Ninguém o localiza e ele mesmo já disse, via advogados, que não vai se entregar.

Sair da versão mobile