Lamento tardio
*Por Carlos Roberto Oliveira
Levada pela intuição, algo tão inerente à mulher, Maria das Dores não conseguia disfarçar sua estranheza ante uma situação que a intrigava, a calmaria doméstica.
Aquela aparente tranquilidade, parecendo mascarar alguma revelação, e dando a entender que tudo corria muito bem, soava falso, até porque, a característica comportamental de Zé Francisco era mais voltada para a alegria e descontração.
E, à medida que o tempo passava, mais a angustia de Maria das Dores se acentuava, pois embora quase tudo tivesse, faltava o diálogo.
E assim, monotonamente, as cenas se repetiam, dia após dia naquelas duas últimas semanas, sempre com as mesmas reações e o mesmo silêncio constrangedor.
Por outro lado, Zé Francisco, demonstrando igualmente uma certa inquietação, procurava evitar qualquer tipo de conversação, como que ficando em uma defensiva e isolando-se cada vez mais.
Com a situação se tornando cada vez mais tensa e insustentável, sem que houvesse, aparentemente, uma razão que a justificasse, Zé Francisco toma a decisão de se manifestar, e quando o faz, o mundo desaba para Maria das Dores.
– Vou ser pai, Maria!
– Como assim, Zé? Não me lembro ter comentado que estava gravida.
– Você não comentou nada, Maria, eu é que me trai.
E agora, José?
*Carlos Roberto de Oliveira é empresário do ramo de logística em Foz do Iguaçu.