Lamento tardio

E assim, monotonamente, as cenas se repetiam, dia após dia naquelas duas últimas semanas

Foto ilustrativa: Pixabay

Lamento tardio

*Por Carlos Roberto Oliveira

Levada pela intuição, algo tão inerente à mulher, Maria das Dores não conseguia disfarçar sua estranheza ante uma situação que a intrigava, a calmaria doméstica.

Aquela aparente tranquilidade, parecendo mascarar alguma revelação, e dando a entender que tudo corria muito bem, soava falso, até porque, a característica comportamental de Zé Francisco era mais voltada para a alegria e descontração.

E, à medida que o tempo passava, mais a angustia de Maria das Dores se acentuava, pois embora quase tudo tivesse, faltava o diálogo.

E assim, monotonamente, as cenas se repetiam, dia após dia naquelas duas últimas semanas, sempre com as mesmas reações e o mesmo silêncio constrangedor.

Por outro lado, Zé Francisco, demonstrando igualmente uma certa inquietação, procurava evitar qualquer tipo de conversação, como que ficando em uma defensiva e isolando-se cada vez mais.

Com a situação se tornando cada vez mais tensa e insustentável, sem que houvesse, aparentemente, uma razão que a justificasse, Zé Francisco toma a decisão de se manifestar, e quando o faz, o mundo desaba para Maria das Dores.

– Vou ser pai, Maria!

– Como assim, Zé? Não me lembro ter comentado que estava gravida.

– Você não comentou nada, Maria, eu é que me trai.

E agora, José?

*Carlos Roberto de Oliveira é empresário do ramo de logística em Foz do Iguaçu.

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