Lockdown 10 e nós 0

Quem manda onde? Qual que eu sigo? Fecha que horas? Isso abre ou não? Socorro!!!

Ilustração: Pixabay

Lockdown 10 e nós 0

*Por Carlos Galetti

Estamos perdendo (ou ganhando) de lavada, o jogo está desproporcional, a falta comendo solta e o juiz não está nem aí. Lockdown durante a semana, depois no fim de semana, no almoço, no jantar e até no café, estou ficando louco, vou começar a morder minha orelha.

Não sei se sabem, mas o maior sintoma da loucura é a tentativa de morder a orelha, aposto que alguém tentou, se cuida amigo ou amiga, ela, a loucura, está chegando.

Domingo acordei e fui comprar o pão, confesso que fiquei confuso com os decretos estaduais e municipais. Quem manda onde? Qual que eu sigo? Fecha que horas? Isso abre ou não? Socorro!!!

Procurando padaria, todas fechadas, comecei a desconfiar. Encontrei um Guarda Municipal que me perguntou, o que o Senhor está fazendo na rua? Chocado falei que estava procurando pão. Falou que não tinha padaria aberta e que deveria voltar a minha residência, o que fiz muito amuado.

Cheguei em casa, entrei e fiquei olhando pra fora observando a liberdade que corria pela calçada e pela pista de rolamento, sentindo-me tal qual um prisioneiro na masmorra pronto para ser conduzido à forca.

Tomei o meu café, usando pão integral que chega a um ponto que enjoa, por isso corri atrás do pão francês, apesar de que engorda mais que o outro, sei que temos que manter esse corpinho de toureiro brasileiro e bebedor de cerveja.

No banho comecei a fazer um planejamento, vou andar até a esquina. Coloquei roupa camuflada, pintei meu rosto com as pinturas de guerra, ficando que nem um ninja, mais o rambo depois da gripe. Saio em incursão.

Aproveitando as dobras do terreno, vou de ponto em ponto, me esgueirando pelos postes e árvores, já ofegante e sentindo que o preparo não é mais o mesmo.

Num ponto sou visto pelo filho do vizinho, que me interpela: – O que está fazendo tio? Pergunto: como me reconheceu? Ao que responde, pela barriga. Volto pra casa correndo, estou fazendo papel ridículo, vou começar a morder minha orelha.

Chego da incursão, encontro minha esposa na janela, rindo muito do meu papel. Nem deixo ela saber do filho do meu vizinho. Vou tirar aquela roupa e limpar a camuflagem.

Agora, já tendo voltado a calma, resolvo escrever sobre tudo isso, o desperdício de um domingo sem estar com os amigos tomando um gelada, a tristeza de não poder sentar no bar do Beto, imaginando estar em Copacabana, na beira da praia, vendo as garotas de biquíni.

Assim é o Lockdown, aconselho não pensar muito ou, logo, estarão tentando morder a orelha.

Aliás, você já tentou? Cuidado…

*Carlos Galetti.

Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

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