Se não agir com Paraguai, Sérgio Moro vai “enxugar gelo” na segurança pública, diz especialista

PRF apreende cigarros no Paraná. Um dos produtos que a “máfia” brasileiro-paraguaia administra. Foto: PRF

Sabe por que o Paraguai se tornou um refúgio para os mais articulados e violentos bandidos brasileiros? Não é pela vizinhança, mas porque “a banda podre da polícia do Paraguai montou um lucrativo negócio de venda de produção” aos criminosos do Brasil.

A afirmação do jornalista Carlos Wagner, especialista em segurança, soa ao mesmo tempo óbvia e terrível. Óbvia porque a gente lê todos os dias como funciona o propinoduto no Paraguai. Terrível porque esta é uma das principais causas do aumento progressivo da violência no Brasil.

Carlos Wagner fala sobre isso em artigo na revista Defesanet especializada em assuntos de defesa, estratégia, inteligência e segurança, sem vínculo com o governo ou empresas do setor.

Já no título do artigo, Carlos Wagner entrega o tema: “Criminosos vendem a soberania paraguaia como proteção para bandidos brasileiros”.

Associação criminosa

Cartes e seu “irmão de alma”, o doleiro dos doleiros Dario Messer, em viagem oficial do então presidente a Israel.

Diz ele que a banda podre da polícia paraguaia é associada a empresários e políticos do país que vivem da indústria da pirataria.

Em especial, os “tabacaleiros”, que fabricam cigarros vendidos ilegalmente no Brasil, que no ano passado representaram 54% do mercado e provocaram um rombo de R$ 11,5 bilhões na arrecadação de impostos, ou um sexto de todo o orçamento da Polícia Federal, como Wagner compara.

O jornalista diz que a situação é “uma velha conhecida do governo do Brasil”, que deixa as coisas acontecerem por conveniência política com os interesses brasileiros no Paraguai ou “simplesmente por sacanagem”.

Isso explica porque o tabacaleiro Horacio Cartes, dono de várias fábricas que inundam o Brasil de cigarros, ilegalmente, e protetor do “doleiro dos doleiros” denunciado na Lava Jato, Dario Messer, foi recebido no Palácio da Alvorada pelo ex-presidente da República Michel Temer, com todas as honras.

Quando se fala em combater a violência no Brasil, o “fator Paraguai” deve ser incluído na equação, sob pena de tudo ficar como está.

Isto é, taxas insuportáveis de violência urbana – homicídios, roubos, tráfico de drogas e crimes comuns – em cidades do Brasil inteiro.

Sérgio Moro

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Wagner diz que o hoje superpoderoso ministro Sérgio Moro sabe disso e que “o seu sucesso ou seu fracasso como ministro da Justiça e Segurança Pública passa pela solução desse problema”.

Moro promete lutar contra o crime organizado, mas deve saber que organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e dezenas de outras, inclusive do Rio Grande do Sul, se instalaram no Paraguai e de lá mandam drogas, armas, munições e explosivos para as quadrilhas do Brasil.

“Sérgio Moro tem duas coisas importantes nas mãos para propor e executar uma solução para o fator Paraguai: ser do Paraná e ter conhecimento de causa. E por ser o primeiro ministro da história brasileira que concentra no seu ministério tantos departamentos especializados em combater o crime, como a PF e o Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF)”, diz o jornalista.

Mas lidar com o problema não será tarefa simples, diz ainda. Primeiro, pelos interesses brasileiros dentro do Paraguai, como a própria Itaipu Binacional. Depois, porque lá vivem cerca de 500 mil brasileiros, os chamados brasiguaios, responsáveis por mais da metade da produção agrícola do país.

“A maioria das famílias tem problemas em provar a posse da terra e de se legalizar como imigrantes no país. É um problema complexo, que pode ser descrito como uma faca no pescoço do Brasil”, lembra Wagner.

Segundo ele, foi exatamente por entrar em rota de colisão com as “máfias paraguaias” que o então presidente Fernando LUgo sofreu um impeachment relâmpago. Assumiu seu vice, Frederico Franco, e abriu-se caminho para a eleição de Horacio Cartes, notoriamente ligado à indústria do cigarro vendido como pirata no Brasil.

Mas o problema não é insolúvel, diz o jornalista, já que no Paraguai há muitos empresários, parlamentares e policiais honestos. O currículo de Moro serve de ponte para aproximá-lo desse pessoal.

Mas fica o alerta de Carlos Wagner: “Se não conseguir resolver esse problema, o ministro Moro vai ser mais um a enxugar gelo na segurança pública. Podem anotar”.

Leia o artigo no original: https://goo.gl/UpPR5f

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