Por que não se usa o número 108 no Paraguai? É mais uma crueldade de Stroessner contra os gays

Combinações de letras e o número 108 que não são permitidos nas placas de veículos do Paraguai.

Um carro com placas “GAY 109” circula pelas ruas chamando a atenção dos paraguaios. De acordo com o Diário Extra, o veículo pertence à organização SomosGay.

O detalhe mais curioso é que a placa só tem o número 109 porque o numeral 108 é proibido pela Corte Suprema de Justiça do país vizinho. Por causa disso, Simón Cazal, presidente da organização, pretende entrar com uma ação para pedir que a lei seja anulada, alegando discriminação.

De acordo com Cazal, as placas personalizadas são possíveis e a organização quer lutar pelo direito de usar a identificação GAY 108 no próprio veículo.

Simón Cazal recebeu, junto com a negativa, um documento que informa que a determinação de não usar o número 108 é baseada na Lei 608/95, modificada por um decreto da época do então presidente Juan Carlos Wasmosy. De acordo com o documento, é proibido usar o número “108” no Paraguai, mesmo que não haja nenhuma referência a ele na referida Lei.

De acordo com Cazal, o número 108 pode insultar apenas os simpatizantes do ditador Alfredo Stroessner que, para ele, querem apagar da história a perseguição à qual as pessoas com diferentes orientações sexuais foram submetidas na época da ditadura, quando muitos homossexuais foram mortos.

Desde aquela época, o número 108 foi “apagado”. Não é usado em telefones fixos, nem na numeração de imóveis. Já no Registro Único de Veículos do Paraguai, há uma lista de combinações de letras e números que não são permitidos no país.

Na chamada “lista negra”, estão letras que formam palavras que tem a pronúncia aparentemente grosseira e ofensiva. Já entre os números, o único proibido é o 108.

“108 e 1 queimado” – A História

Atrás de mais detalhes, encontramos uma matéria, publicada em 2014 pelo jornal Ultima Hora, que explicou o motivo que levou os paraguaios a usar a expressão “108” para falar dos homossexuais.

De acordo com os registros (Jornal Última Hora de 2014), em 1 de setembro de 1959, um locutor de rádio morreu queimado em um bairro de Assunção. Na época, a polícia informou que se tratava de um “ajuste de contas” entre homossexuais.

A partir daquele fato, teria sido elaborada uma lista com 108 homens considerados “diferentes” entre os suspeitos. Pelas informações da época, todos eles foram torturados, enquanto que os jornais publicavam que “108 pessoas de conduta duvidosa estavam sendo interrogadas”.

Desde aquela tempo, a referência a “108 e 1 queimado” passou a ser considerada uma ofensa e infelizmente, até hoje, o número 108 é usado para fazer referência aos homossexuais no Paraguai.

Após a morte do locutor Bernardo Aranda começou o que se chamou de uma das piores repressões contra os homossexuais, no Paraguai.

Sair da versão mobile