Neste domingo, começa uma feira livre. De livros, música e debates

Mesmo com a Internet e os mais modernos meios de comunicação à disposição de (quase) todos, os livros ainda são o símbolo da cultura e do saber. Mais que isso, são mesmo redutos da cultura e do saber.

Portanto, se você não quer ficar na discussão cada vez mais rasa e tola das redes sociais, leia livros. E, se está em Foz do Iguaçu, vá à 14ª Feira Internacional do Livro, que fica de domingo (16) a domingo (24) no Complexo Bordin. Mostre sua cara onde vale a pena ser visto.

Leve algum dinheiro pra comprar livros e um lanche, juntando assim os alimentos necessários a todos nós.

Boa música

E aproveite pra abrir os ouvidos: neste domingo, a atração musical da feira será a cantora e atriz Zezé Motta, com o show “Atendendo a pedidos”, em que homenageará seus compositores preferidos, como Caetano Veloso, Luiz Melodia, Jards Macalé e Elizeth Cardoso.

Há quem se lembre de Zezé Motta apenas como atriz (difícil dissociar a imagem dela de Xica da Silva -, mas, com 50 anos de carreira, ela laçou seu primeiro disco ainda em 1978, com músicas de Luiz Melodia (Magrelinha), John Neschling e Geraldo Carneiro (Rita Baiana), além de Francis Hime e Chico Buarque (Trocando em Miúdos) e Pecado Original (Caetano Veoso), entre outros.

Pra resumir (mesmo), Zezé participou de mais de 15 filmes e em mais de 30 projetos e minisséries da Globo, Record, Bandeirantes e Manchete.

A entrada é franca.

“Quarto de Despejo”

Este ano, a Feira do Livro presta uma homenagem especial à escritora brasileira Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977), autora do best-seller “Quarto de Despejo: Diário de Uma favelada”, no qual registrou o cotidiano da favela, a discriminação e a luta diária pela subsistência na maior metrópole brasileira, na década de 1960.

Carolina é a segunda mulher a ser homenageada pela Feira do Livro. No ano passado, Ana Maria Machado foi à autora escolhida pela comissão organizadora.

Além dos livros dela, estarão na feira, no domingo, o autor da primeira biografia de Carolina de Jesus, Tom Farias; a filha caçula dela, Vera Eunice; e a neta, Marisa. Ah, sim, e também Zezé Motta, que em 2003 interpretou a autora no documentário “Carolina”.

Tom Farias fará o lançamento do livro “Carolina: Uma biografia”, às 16 horas no Espaço Literário. Já às 20 horas, a escritora e pesquisadora Rafaela Fernandes fala sobre o livro “Meu Sonho é Escrever’, que reúne contos inéditos de Carolina de Jesus. O encontro, na Arena Literária, tem início às 20 horas.

Literatura negra

A programação da feira está repleta de atrações ligadas à literatura negra, com a participação da escritora Conceição Evaristo, no dia 18 (terça-feira), e debates sobre as mulheres negras na educação e as reflexões sobre o livro “Quarto de Despejo”, principal obra de Carolina, traduzida em 16 idiomas e publicada em 46 países.

Carolina de Jesus

Nascida em 1914 na cidade de Sacramento, interior de Minas, Carolina estudou até a segunda série primária e teve uma infância pobre e difícil.

Em 1937 se mudou para São Paulo, onde construiu a própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer material que pudesse encontrar nas ruas. Ao chegar à cidade, conseguiu emprego na casa de um médico, que permitia a Carolina ler os livros de sua biblioteca nos dias de folga.

Quando deixou o emprego, voltou a trabalhar como catadora, e mantinha o hábito de registrar o cotidiano da comunidade onde morava nos cadernos que encontrava na rua. Um destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem ao seu livro mais famoso, “Quarto de Despejo”, publicado em 1960.

Com o sucesso da publicação, Carolina ganhou dinheiro suficiente para mudar de vida. Ela se mudou com os três filhos para um sítio em Parelheiros, zona Sul de São Paulo, onde viveu o resto da vida. As obras seguintes não fizeram tanto sucesso e Carolina foi ficando esquecida pelo público. Ela morreu em 1977, aos 63 anos, de bronquite asmática.

Nada mudou

Em 2014, no centenário de Carolina, sua filha Vera Eunice, uma das protagonistas do Diário, revelou o desconforto ao ver que a realidade em que viveu com a escritora ainda persiste. “Eu achava que as abordagens do livro se tornariam obsoletas. O problema é que quase tudo que minha mãe viu e escreveu ainda está aí, na nossa frente”.

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