O Avesso da Vida

Apesar de 40 anos passados, o motivo perdura para justificar o abandono da minha terra.

Foto: Pixabay

O Avesso da Vida

*Por Carlos Galetti

Esta aconteceu há mais de quarenta anos.

Ainda hoje existe um jornal no Rio de Janeiro, Jornal O Dia, que tinha ou ainda tem uma coluna “O Avesso da Vida”, escrita por um jornalista, excelente cronista.

O que aqui vou relatar, ou tentar reproduzir, será uma dessas crônicas.

O título não me lembro mais, mas era o seguinte:

O taxista, tarde da noite, circula pelas ruas do Rio, à procura de passageiro, afinal ainda não tinha completado a “féria”, que deveria destinar ao dono do carro, para só então defender o seu dinheiro.

Centro do Rio, ruas estreitas, ainda do tempo do Império, que não alargariam até o Governo de Carlos Lacerda, o homem das obras, mas, de repente, ainda nem era político.

Entra rua, sai rua, lá longe alguém faz sinal para o taxi. Lugar ermo, pensa se deve parar, decidindo por pegar o passageiro. Entra cumprimenta e se senta no banco de trás.

O passageiro diz o seu destino ao motorista, que começa o trajeto, com a bandeira dois, pelo avançado da hora. O desenrolar agora passa a ser tragicômico.

O motorista começa a pensar com seus botões, que sujeito mal encarado, será o assaltante de taxistas que anda atacando na cidade?

Enquanto o passageiro, por sua vez, começa a conjecturar, li hoje a notícia de que há um taxista que assalta os passageiros.

O motorista pensa, se ele mandar eu parar, solto do carro em movimento e corro o mais rápido que puder.

O passageiro pensa, vou mandar parar, abro a porta e corro o mais rápido que puder.

Assim foi, o passageiro manda parar na próxima esquina. O motorista diminui, vai parando, abandonando o carro ainda em movimento. O passageiro, quando o carro diminui, abre a maçaneta e se projeta para a rua, em desabalada carreira.

Na madrugada jazem dois loucos correndo em direção oposta, enquanto um pobre carro, que fora parado pelo meio fio, jazia abandonado pela intrínseca violência da cidade. Detalhe, ainda com o motor ligado.

Apesar de 40 anos passados, o motivo perdura para justificar o abandono da minha terra.

O Cristo anda tão envergonhado…

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

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