O Jovem e a Linda Moça

Ficava intrigado com sua beleza, chegando a sentir-se diminuído diante de tamanha formosura

Foto ilustrativa: Pixabay

O Jovem e a Linda Moça

*Por Carlos Galetti

Todos os dias estava lá, invariavelmente. Saía da sua aldeia, vinha caminhando pela praia até a cidade, quando passava a observava. Seus olhos a encontravam, banhada pelo sol que já nascia, realçando suas formas, sua beleza, seu esplendor.

Ficava intrigado com sua beleza, chegando a sentir-se diminuído diante de tamanha formosura. Seu comportamento não demonstrava vaidade, pois não se sobrepunha às demais belezas, ao invés exalava humildade.

Certa vez encorajou-se e sentou ao seu lado. Nada falou e, também, emudeceu. Partiu correndo, envergonhado e confuso. Não era um bom dia.

No outro dia passou por ela, sem coragem de encara-la, olhou-a de soslaio, tendo até um certo medo que o interpelasse. Os passos rápidos o levaram para longe com rapidez. Quando olhou para trás, lá estava. Em determinado momento deu a impressão de estar olhando na sua direção, correu desenfreadamente.

Assim passavam os dias e os anos, até que não estava. Olhou em todas as direções e não a encontrava, bateu-lhe o desespero. Voltou à realidade e, seguiu o seu caminho, entristecido, saudoso.

Vários dias se sucederam, sem que ela aparecesse. Certo dia, tinha uma moça no lugar onde a árvore sempre estava, uma linda moça de cabelos cacheados, olhos castanhos e jeito encantador. Teve a curiosidade de perguntar quem seria, respondendo-lhe que era a linda árvore frondosa que ocupava aquele espaço.

Disse que tinha autorização para, vez por outra, transformar-se em gente, para revelar algum segredo. Colocou-se ao dispor do jovem para esclarecê-lo.

Satisfez a sua curiosidade, conversaram horas a fio, trazendo à baila informações sobre seus mundos, tão diferentes e que os afastava tanto.

O tempo da linda moça se extinguia, logo voltaria a ser árvore e o jovem teria de voltar para casa. A triste realidade se avizinhava.

No sopé dessa árvore mora um mendigo que diz ser o escritor do cordel “O Jovem e a Linda Moça”

Do nada ele adormeceu, ao acordar deparou-se com a linda árvore. Gritou pelo nome da jovem que nem sabia, chamando-a de “Linda Moça”. Ficou desesperado, não entendia tamanho desgosto, clamava a Deus, mas sem resposta.

Todos conhecem essa história como: – “O Jovem e a Linda Moça”. Figura em inúmeras fitas de cordel, espalhadas pelo interior da Bahia. Ainda existe uma praia, a mais de cem quilômetros de Salvador, chamada Praia da Moça Bonita, onde, na beira da praia, há uma linda e enorme árvore.

No sopé dessa árvore mora um mendigo que diz ser o escritor do cordel “O Jovem e a Linda Moça”. Claro todos o taxam de louco.

Procurei ir mais a fundo nessa história, sabendo que na aldeia que existe no final da praia, havia um jovem que um dia não voltou pra casa, virando mendigo e vivendo no sopé da linda árvore.

Vai saber, coisas que a própria razão desconhece. Mas, algumas vezes vale não ser tão racional.

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

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