O semelhante nosso de cada dia

Passamos a enxergar esse problema como também nosso, pelo menos nos posicionamos de forma diferente diante do

Foto ilustrativa: Pixabay

O semelhante nosso de cada dia

*Por Carlos Galetti

Algumas vezes, é difícil entabular um determinado assunto, por mais que nos esforcemos fica difícil a abordagem. Não é falta de assunto, trata-se de como abordar.

Pronto, a inspiração agora está do meu lado, da nossa discussão certamente sairá o texto. Basta alguns acertos finais, os famosos burilamentos, um toque especial ali, mais uma ideia relevante, pronto, agora sai.

No meu processo criativo, em particular, vou juntando assuntos relevantes sobre os quais gostaria de comentar. Quando decido colocar no papel, vem, antecedendo a execução, a elaboração de como abordar, fazendo com que já surja o início, meio e fim.

Lembrei de uma reportagem que assisti sobre andarilhos. Causou-me espanto o fato de que existem alguns que viajam estados, fazem suas higienes a sua maneira, vivem de doações, bondades, caridades.

O jornalista, demonstrando seriedade no seu trabalho, selecionou aqueles que realmente poderiam trazer informações úteis na abordagem do assunto. Conhecemos casos de pessoas que divulgaram até os motivos de suas desditas, as suas perdas, as decepções vividas, o caminho sem volta.

Esses invisíveis andarilhos que passam por nós no dia a dia, mas não os vemos, passaram a ter uma outra conotação, pelo menos em relação a mim, entretanto, tenho certeza, mais pessoas foram tocadas pelos depoimentos, pelas revelações, pelo problema existente, mas que insistimos em ignorar.

Passamos a enxergar esse problema como também nosso, pelo menos nos posicionamos de forma diferente diante do fato. Abrimos mais os olhos diante das atrocidades que tivemos conhecimento através dos tempos, coisas como se incendiar um morador de rua, e eu pergunto o por quê?

Mais trágico ainda é o fato de que se tratava de jovens de classe média alta, pessoas bem aquinhoadas, jovens universitários. Nos levando à reflexão sobre o que levaria ao odioso ato.

Estamos indo para a parte sociológica do fato, não nos atenhamos a isso, continuemos nas dúvidas antigas, sobre o que levaria um ser humano a abandonar o mundo real, optando por viver em um mundo de fantasia, talvez um Dom Quixote de La Mancha, ou ainda, numa busca incessante de algo que perdera no passado.

Seus passos esmagam o asfalto, os calçados estão gastos pelo tempo e pelo uso constante, mas surgirá alma bondosa que lhe fornecerá novos calçados, doará algumas roupas para o uso diário, outros lhe darão um prato de comida, enquanto outros, ainda, lhe dará uma coberta para as noites de frio.

Todos faremos nossa parte, que não seja comprando nossas próprias consciências, mas repartindo o pão com o próximo, amparando o nosso semelhante. Pode até não parecer, mas é nosso semelhante.

Que assim seja!

*Carlos A. M. Galetti é coronel da reserva do Exército, foi comandante do 34o Batalhão de Infantaria Motorizado. Atualmente é empresário no ramo de segurança, sendo sócio proprietário do Grupo Iguasseg. 

Vivendo em Foz já há mais de 20 anos, veio do Rio de Janeiro, sua terra natal, no ano de 1999, para assumir o comando do batalhão.

 

Sair da versão mobile